Programa de
Manejo de Agroecossistemas
A agricultura familiar ocupa um lugar importante na economia doméstica das famÃlias das RDSs Mamirauá (RDSM) e Amanã (RDSA), bem como em outras unidades de conservação como na Floresta Nacional de Tefé (FLONA – Tefé) e nos municípios da região de Tefé, localizados no médio rio Solimões. Esta atividade, em conjunto com a pesca e manejo de recursos madeireiros e não madeireiros estão entre as principais atividades rurais praticadas pelos ribeirinhos, agricultores e produtores destas regiões. Nestas áreas os sistemas de cultivo estabelecidos são itinerantes (agricultura migratória ou de corte queima) e constituem os agroecossistemas, onde incluem-se as áreas de roças (áreas destinadas prioritariamente ao plantio da mandioca), capoeiras (florestas secundárias em diversas etapas de sucessão ecológica), sÃtios e quintais. Devido a importância econômica da agricultura familiar e sua importância para conservação, desde 1994 o Instituto Mamirauá vem realizando pesquisas sobre esse tema, além de oferecer assessoria técnica aos agricultores familiares, colaborando para a melhoria e sustentabilidade das práticas de manejo dos agroecossistemas e produtividade dos sistemas.
Objetivos
O Programa de Manejo de Agroecossistemas (PMA) estimula o manejo participativo dos agroecossistemas e trabalha com quatro objetivos principais:
1- Estimular a melhoria do manejo dos agroecossistemas, visando o uso sustentável do solo, a redução do desmatamento e o aumento de agrobiodiversidade;
2- Estimular a diversificação produtiva como estÃmulo à segurança alimentar e geração de renda;
3- Apoiar a organização dos produtores para a comercialização;
4- Estimular a conscientização ambiental e cidadã.
Abordagem
Toda a atuação do PMA tem como base os princÃpios da agroecologia, que prioriza a manutenção e uso dos recursos naturais dos próprios agroecossistemas como forma de manter a conservação dos sistemas produtivos e da natureza. As propostas de intervenções são desenvolvidas de modo a adequar-se à realidade local e às prioridades identificadas pelos agricultores e criadores. Esse direcionamento ocorre por meio do conhecimento do manejo tradicional, da identificação dos potenciais e limitações dos produtores rurais e de seus sistemas e da construção participativa de soluções e experimentações. Para tanto, o PMA promove capacitações e assessorias técnicas voltadas ao fornecimento de informações teóricas e práticas sobre todas as etapas dos manejos, apoiando o processo de fortalecimento dos grupos e de agricultores e criadores quanto a organização, gestão e desenvolvimento da autonomia para realizar as práticas de manejo. O PMA também integra e incentiva o envolvimento dos moradores locais para participação em espaços de discussão e decisão locais e regionais, tais como em Fóruns de discussões, em Conselhos, Comitês, Comissões, que possibilitem melhorias na qualidade de vida das famÃlias e grupos. Além disso, participa e incentiva a participação nas discussões voltadas a construção de políticas públicas voltadas as realidades das agricultores e criadores que residem no interior e busca o fortalecimento de redes de instituições locais e regionais, que fortaleçam as trocas de experiências.
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Linhas de atuação e Projetos de Extensão
Manejo da criação de pequenos animais
A criação de pequenos animais tem um importante papel na complementação da renda familiar, além de servir como fonte de alimentos para as famÃlias de criadores e agricultores. A partir do diagnóstico do manejo tradicional, foram identificadas as principais fragilidades desses sistemas de criação, sendo estes assuntos constantemente discutidos nas atividades em campo, conjuntamente com as famÃlias assessoradas. O PMA realiza capacitações e assessorias técnicas para as famÃlias que criam animais (em especial no manejo de galinhas, porcos, patos e carneiros mais comumente criados na região) com o objetivo de proporcionar melhorias das práticas de manejo, que promovam a manutenção da saúde destes animais e da qualidade dos ambientes de criação, bem como para melhoria da produtividade dos sistemas e da sustentabilidade dos agroecossistemas.
Manejo e implementação de Sistemas Agroflorestais (SAF's)
Os sistemas agroflorestais são realizados de forma tradicional pelas famÃlias de agricultores sendo a produção de espécies de frutÃferas e hortaliças utilizadas na complementação da renda e na composição alimentar das famÃlias e de suas criações. O PMA busca conhecer o manejo tradicional e propor melhorias nestas práticas a partir do incentivo ao uso de práticas agroecológicas, que valorizem a produção de alimentos saudáveis e de procedência conhecida, livres de agrotóxicos e de insumos externos, que valorizam o trabalho do agricultor e que proporcionem a sustentabilidade das áreas produtivas. As capacitações e assessorias para o manejo de SAF’s buscam estimular o aperfeiçoamento do manejo dos agroecossistemas, aproveitando as caracterÃsticas dos sistemas naturais, buscando incentivar a diversificação produtiva, o aumento da agrobiodiversidade e a melhoria do uso do solo de forma a proporcionar melhorias na produtividade dos agroecossistemas.
Manejo Pecuário Agroecológico
Na RDSA a criação de gado bovino e bubalino é uma das atividades praticadas pelas famÃlias de criadores. Com a finalidade de levantar informações e propor estratégias de assessoria para a atividade, foram desenvolvidas pesquisas, nos anos de 2005 e 2010, sobre a atividade de criação do gado e sobre as práticas de manejo utilizadas pelos criadores. Em 2012, o PMA iniciou sua atuação com atividades de assessoria técnica voltadas à realização de diagnósticos da criação e dos criadores, levantamento de informações sobre o rebanho, formas de criação dos animais nas áreas de pastos e sanidade animal. Por meio de experimentações o programa busca alternativas para realização do manejo sustentável do gado, que sejam compatÃveis com os objetivos de uma unidade de conservação. Estratégias para reduzir o impacto da criação e que proporcionem a conservação destes ambientes são focos de estudos do programa. Assim, capacitações e assessorias técnicas são oferecidas continuamente aos criadores sobre as temáticas de manejo da criação animal agroecológica voltadas a melhoria do manejo para saúde e bem estar destes animais, uso sustentável do solo das áreas de criação, melhoria da produtividade e redução do desmatamento.
Apoio à organização dos produtores para comercialização
As atividades desenvolvidas nesta linha visam o estÃmulo para a organização e fortalecimento de agricultores, criadores e grupos de produtores para a gestão de unidades produtivas, para melhorias e estruturação do processo de escoamento, comercialização e agregação de valor aos produtos da sociobiodiversidade local. Capacitações e assessorias são continuamente oferecidas para agricultores, criadores e grupos de produtores com atividades voltadas ao desenvolvimento de boas práticas de beneficiamento das produções, apoio para a definição de estratégias de escoamento e comercialização. Apoio no fortalecimento, articulação e organização dos grupos e na busca de soluções para limitações e dificuldades que os mesmos enfrentam para a comercialização de seus produtos.
Manejo e criação de abelhas nativas sem ferrão
A promoção do manejo de abelhas nativas sem ferrão é chamado de Meliponicultura e visa, além do fortalecimento da produtividade das áreas de plantio, a diversificação produtiva, a segurança alimentar e a conservação de abelhas nativas e seus serviços ecológicos, especialmente a polinização. O PMA realiza capacitações e assessorias técnicas voltadas a formação de multiplicadores, melhorias das práticas de manejo e o incentivo a multiplicação das colmeias. A assessoria técnica é oferecida às famÃlias de criadores em todas as etapas deste manejo, que vão desde a construção de caixas padronizadas, processo de captura da colmeia e transferência para a caixa, até a multiplicação de colmeias e a extração de mel. Além disso, os criadores são orientados com informações sobre o relevante papel desempenhado pelas abelhas na polinização e produção de frutos.
Resultados
O PMA, desde as suas primeiras ações, já realizou assessoria e capacitação para mais de 700 pessoas, entre estes: famÃlias de agricultores, criadores e grupos de produtores das RDSs Mamirauá e Amanã, Flona Tefé, RDS Piagaçú Purus, Terra IndÃgena Sateré Mawé – em Maués (AM), em comunidades quilombolas como Mel da Pedreira em Macapá (AP) e nas regiões dos municípios de Tefé, Alvarães, Uarini e Maraã (AM), dentre outros.
Alguns resultados conquistados como fruto do trabalho do Programa até os dias de hoje são: Melhoria da articulação de produtores para a comercialização; Apoio na realização de Feiras Agroecológicas; Melhorias no manejo sanitário das criações de animais e nas práticas de cultivos agrÃcolas; Introdução e incorporação de novas atividades como complemento de renda doméstica e complementação alimentar; Construção e incorporação de práticas de manejo que garantam o uso sustentável dos recursos naturais; Estabelecimento de redes com outras organizações da Amazônia; Integração e participação em Fóruns locais e regionais de discussão que contribuem para trocas de experiências e para o fortalecimento da integração entre as diversas instituições; Contribuições para a consolidação e construção de Políticas Públicas voltadas para a realidade local, tais como a Política Estadual de Agroecologia e Produção Orgânica do Amazonas e a Política Estadual de Meliponicultura do Amazonas; Representação na cadeira institucional entre os membros da Comissão de Produção Orgânica do Amazonas (CPOrg-AM).
Publicações
Protocolos de Manejo de Recursos Naturais
Protocolo de Manejo de Abelhas Nativas Sem Ferrão (Meliponini): Reservas Amanã e Mamirauá, Floresta Nacional de Tefé e comunidade Missão, Amazonas, Brasil
Ano: 2024
As informações neste protocolo são resultado de um trabalho que se iniciou nos anos 90, a partir das primeiras pesquisas que foram desenvolvidas em uma expedição liderada pelo primatólogo Dr. Márcio Ayres, na região de Mamirauá, quando a atual Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (RDSM) ainda era uma Estação Ecológica. A partir da criação das Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Mamirauá (RDSM) e Amanã (RDSA), muitas pesquisas começaram a ser desenvolvidas nestas regiões, onde se identificaram demandas para estruturação de diversos manejos de recursos naturais, entre eles o manejo de abelhas nativas sem ferrão, chamado de Meliponicultura.
Artigos Científicos em Periódicos
Impactos da COVID-19 nas cadeias produtivas e no cotidiano de comunidades tradicionais na Amazônia central
Ano: 2020
SILVA, Jacson Rodrigues da et al. Impactos da COVID-19 nas cadeias produtivas e no cotidiano de comunidades tradicionais na Amazônia central. Mundo Amazónico, v.11, n.2, p.75-2, jul./dez. 2020.
Capítulos de Livros
Dinâmica e caracterização da atividade de produção animal: bovino e bubalinocultura
Ano: 2019
STEWARD, Angela May et al. Dinâmica e caracterização da atividade de produção animal: bovino e bubalinocultura. In: NASCIMENTO, Ana ClaudeÃse Silva do et al (Org.). Sociobiodiversidade da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã (1998-2018): 20 anos de pesquisas. Tefé: IDSM, 2019. p.293-302.
Capítulos de Livros
Dinâmica e práticas de manejo da agricultura migratória: padrão de uso dos recursos, caracterização e transformações na paisagem
Ano: 2019
VIANA, Fernanda Maria de Freitas et al. Dinâmica e práticas de manejo da agricultura migratória: padrão de uso dos recursos, caracterização e transformações na paisagem. In: NASCIMENTO, Ana ClaudeÃse Silva do et al (Org.). Sociobiodiversidade da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã (1998-2018): 20 anos de pesquisas. Tefé: IDSM, 2019. p.275-291.
Cartilhas
Casa de Farinha e Boas Práticas de Produção com Base na Indicação Geográfica da Farinha Uarini
Ano: 2019
A produção de farinha de mandioca representa uma prática cultural valorizada e compartilhada por gerações ao longo de centenas de anos, se consolidando como uma das principais culturas agrÃcolas para a subsistência de populações tradicionais da Amazônia.
A farinha de mandioca da região do médio Solimões possui caracterÃsticas únicas definidas pelo modo de produção, variedades de mandiocas e utensÃlios utilizados no processamento da raiz que atribuem à farinha algumas qualidades especÃficas.
Esta cartilha contém informações que auxiliam os agricultores a alcançarem melhorias em suas casas de farinha, que vão além do processo da IG e da conquista do selo. Contempla as Boas Práticas de Produção definidas pelos próprios produtores e produtoras de farinha de mandioca em colaboração com técnicos envolvidos com a assessoria técnica rural. A estrutura deste modelo reúne tecnologias sociais importantes, como os fornos ecológicos, o sistema de captação de água de chuva, as instalações sanitárias, dentre outras adaptações aos equipamentos. Além de facilitarem o processo produtivo para o agricultor, trazem melhor qualidade para a produção e também refletem diretamente na qualidade de vida das famÃlias agricultoras que estarão trabalhando nestas casas. Este documento também servirá como material de divulgação dos modos tradicionais de produção e da importância cultural e econômica da Farinha Uarini.
Capítulos de Livros
As abelhas nativas 'sem ferrão' (Hymenoptera, Anthophila, Meliponini) e sua importância para a conservação ambiental
Ano: 2019
OLIVEIRA, FavÃzia Freitas de; RICHERS, Bárbara Tadzia Trautman. As abelhas nativas 'sem ferrão' (Hymenoptera, Anthophila, Meliponini) e sua importância para a conservação ambiental. In: NASCIMENTO, Ana ClaudeÃse Silva do et al (Org.). Sociobiodiversidade da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã (1998-2018): 20 anos de pesquisas. Tefé: IDSM, 2019. p.50-67.
Jogos
Jogo quebra-cabeça – Sistema Agroecológico
Ano: 2019
Formado por 40 placas de 30x30 cm, o jogo traz 20 imagens, bem como o nome popular e cientÃfico de animais e plantas encontrados nas Reservas Mamirauá e Amanã. O jogo auxilia no exercÃcio do conhecimento sobre as espécies, fomentando o diálogo e a troca de informações sobre os mesmos. É importante para compreensão de ocorrência e estado de conservação destes, e especialmente para uma abordagem sobre conservação.
Artigos Científicos em Periódicos
Sistema para produção de hortaliças em várzeas na Amazônia: experiência da comunidade Costa da Ilha II - Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, Amazonas
Ano: 2018
SILVA, Jacson Rodrigues; GONÇALVES, Carlos de Carvalho; VIANA, Fernanda Maria de Freitas. Sistema para produção de hortaliças em várzeas na Amazônia: experiência da comunidade Costa da Ilha II - Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, Amazonas. Cadernos de Agroecologia, v.13, n.1, p.1-6, jul. 2018.
Artigos Científicos em Periódicos
Evaluation of the chemical, sensory and volatile composition of sapota-do-solimões pulp at different ripening stages
Ano: 2018
MONTEIRO, Sabrina Sauthier et al. Evaluation of the chemical, sensory and volatile composition of sapota-do-solimões pulp at different ripening stages. Food Research International, v.109, p.159-167, 2018.
Artigos Científicos em Periódicos
Manejo e a qualidade de sementes crioulas em comunidades de várzea no médio Solimões, Amazonas
Ano: 2017
CARVALHO, R.; FERREIRA, S. A. N.; STEWARD, A. M. Manejo e a qualidade de sementes crioulas em comunidades de várzea no médio Solimões, Amazonas. Revista Brasileira de Agroecologia, v.12, n.2, p.140-151, 2017. ISSN: 1980-9735Artigos Científicos em Periódicos
Agrobiodiversity and in situ conservation in quilombola home gardens with different intensities of urbanization
Ano: 2017
ÁVILA, Julia Vieira da Cunha et al. Agrobiodiversity and in situ conservation in quilombola home gardens with different intensities of urbanization. Acta Botanica Brasilica, v.31, n.1, p.1-10, jan./mar. 2017. DOI: 10.1590/0102-33062016abb0299
Cartilhas
Manejo de Abelhas Nativas sem ferrão na Amazônia Central
Ano: 2015
Público: manejadores de abelhas nativas sem ferrão
A cartilha foi produzida para incentivar o aproveitamento dos ninhos de abelhas nativas sem ferrão por comunidades tradicionais. Além disso, fortalece a prática do manejo, que "se apresenta como mais um elemento de diversificação da produção rural e que contribui para a conservação dos ambientes agrÃcola e natural".
Livros
Guia ilustrado das abelhas "Sem-ferrão" das Reserva Amanã e Mamirauá, Amazonas, Brasil
Ano: 2013
Público: técnicos e pesquisadores
O Guia Ilustrado das Abelhas–sem-ferrão das Reservas Amanã e Mamirauá é uma obra necessária, que preenche uma lacuna no conhecimento da biodiversidade regional. Ricamente ilustrado e com informações importantes sobre o manejo, baseadas no conhecimento dos autores e da população regional, o guia é essencial para o desenvolvimento da criação e o uso sustentável de abelhas sem ferrão (meliponicultura) nesta reserva e em toda a Amazônia.