"Essa capacitação é muito importante, a informação é essencial para os manejadores"

Publicado em: 23 de outubro de 2017

"Quem tiver a oportunidade de trabalhar de forma legal, tem que fazer essa mudança"

Raimundo Waldir Pereira, mais conhecido como Waldir, "na vida", é manejador florestal. De formação, é cientista político, graduado pela Universidade do Estado do Amazonas, campus Tefé. Ele já trabalhou com polí­tica, mas tem preferido se distanciar. "Logo no início da faculdade, pensei em trabalhar na polí­tica. Mas aí tem muitas coisas que a gente vai se decepcionando, principalmente porque, na faculdade, as teorias são muito distantes da prática. É uma contrariedade, porque o sistema político brasileiro está escancarado, né?!". Com a atividade de exploração madeireira na família, Waldir seguiu o mesmo caminho. "Meu pai mesmo foi madeireiro. Naquela época, a atividade movimentava a economia da região. Aqui, só quem tinha dinheiro era madeireiro. Era rebocador [barco que faz o transporte de madeira] subindo, deixando rancho [compra ou troca de alimentos para subsistência], deixando dinheiro, deixando material, aí, quando descia, pegava a jangada cheia de madeira em tora. Mas essa atividade foi caindo por conta da legislação", explica Waldir.

Com o cenário de fiscalização, Waldir migrou para o caminho da legalidade e aconselha: "Quem tiver a oportunidade de trabalhar de forma legal, tem que fazer essa mudança. Vai trabalhar muito mais satisfeito, vai poder produzir mais, vai produzir riqueza, tanto para a família, como para o próprio município e o estado. Eu vejo assim". Waldir integra um acordo de manejo florestal madeireiro entre extratores florestais urbanos e rurais. A iniciativa foi possível no âmbito do Projeto BioREC, que, desde 2014, promove reuniões para criação do regimento interno e para as capacitações. A primeira exploração ocorreu em janeiro de 2017. 

"Eu avalio a capacitação como de grande valia para os manejadores. Os técnicos do Instituto Mamirauá ensinaram até a fazer a cubagem da madeira. A espessura das peças, as quantidades de cada espessura, a fórmula, como se faz para saber quantos metros vai dar, quantas peças aquela bitola vai dar e a cubagem. Então, achei muito importante essa capacitação, porque, nesse processo, a informação é essencial para os manejadores", afirma Waldir.

O manejo florestal na região é considerado de "impacto reduzido", por utilizar técnicas que minimizam os danos à floresta. Entre elas, está a retirada da madeira pelos corpos d’ água, no lugar da abertura de estradas e pátios para estocagem da madeira, a queda direcionada das árvores, além da ausência de grandes máquinas, como tratores. Mas, para realizar o manejo, as comunidades precisam cumprir algumas etapas, como o treinamento das equipes, o mapeamento participativo para zoneamento da área, o levantamento de estoque, o licenciamento ambiental, a exploração e a comercialização. Da parte do licenciamento ambiental, Waldir tem um desejo: "Essa questão, precisa ser, digamos, reformulada. Ás vezes, uma coisa mínima se torna uma dificuldade muito grande para o manejador, principalmente nos trâmites burocráticos. A gente tem que encontrar mecanismos, meios, para que esses trâmites não sejam empecilhos para travar o manejo. Eu sou muito otimista com isso".

O projeto "Mamirauá: Conservação e Uso tentável da Biodiversidade em Unidades de Conservação" ou BioREC (Bio de biodiversidade e REC de redução das emissões de carbono) é desenvolvido pelo Instituto Mamirauá desde 2013, financiado pelo Fundo Amazônia, gerido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Texto: Eunice Venturi, com colaboração de Amanda Lelis, originalmente escrito para o livro "Protagonistas: relatos de conservação do Oeste da Amazônia", disponível para download em mamiraua.org.br/protagonistas

 

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