Em expedição ao longo do rio Jutaí, no Amazonas, pesquisadores avaliam biodiversidade de peixes

Publicado em: 24 de março de 2015

O Instituto Mamirauá, em parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) iniciou uma pesquisa para realizar o levantamento da biodiversidade de peixes na Estação Ecológica (Esec) Jutaí-Solimões e Reserva Extrativista (Resex) do Rio Jutaí, oeste do estado do Amazonas.

Conhecida mundialmente por sua extensa rede hídrica, a bacia Amazônica ocupa uma área total de 6.110.000 km², sendo 63% situada em território brasileiro, de acordo com a Agência Nacional da Águas (ANA).  Cerca de 21% das espécies de peixes de água doce conhecidas no mundo está no Brasil, de acordo com o "Catálogo das espécies de peixes de água doce do Brasil", publicado pelo Museu Nacional. E o número estimado para a região Amazônica é de até cinco mil espécies, de acordo com o livro "Estudos ecológicos de comunidades de peixes tropicais", publicado pela Editora da USP.

Além da notória diversidade de peixes encontrada na Amazônia brasileira, acredita-se que haja grande quantidade de espécies ainda desconhecidas, devido à grande extensão, à ampla área coberta pela floreta e às dificuldades de acesso e logística para realização de pesquisas na região. De acordo com Danielle Pedrociane, pesquisadora do Instituto Mamirauá, os inventários de ictiofauna da região do médio Solimões se detêm praticamente à região da cidade de Tefé e em lagos de várzea entre os municípios de Coari e Manaus. "A oportunidade de pesquisar nesta área é um privilégio. Poder expandir os estudos para outros locais nos permitirá dar informações à comunidade local e científica. Conhecer o recurso que poderá ser utilizado pelas populações tradicionais, melhorando a sua renda e qualidade de vida. Tudo isso nos permitirá escolher o melhor caminho para buscar medidas de proteção, conservação e uso sustentável dos recursos naturais para esta e futuras gerações na Amazônia", reforçou a pesquisadora.

As informações geradas pelo estudo podem contribuir para revisão do plano de manejo da Resex. De acordo com Marcelo Vieira, gestor da Reserva pelo ICMBio, o plano contribui para orientar a gestão dos recursos naturais pelos comunitários, por se tratar de uma reserva extrativista. "A gestão dos recursos deve acontecer de forma sustentável. Hoje, a Resex tem 24 comunidades, com cerca de 180 famílias vivendo ali, que precisam desses recursos. O relatório faunístico é importante, pois é o primeiro passo para qualquer ação em relação ao manejo", reforçou.

Jonas Oliveira, técnico de pesquisa do Instituto Mamirauá, apontou que outro foco importante do estudo é identificar possíveis espécies que ocorrem na região e possuem potencial para o manejo de peixes ornamentais. O que poderia se configurar como mais uma atividade para geração de renda para as populações residentes na Resex. "Ficamos muito interessados no tipo de ambiente que tem ali. É uma área onde nunca foi feito esse tipo de levantamento, e temos encontrado muitas espécies diferentes", comentou.

O conhecimento da diversidade biológica de água doce e o entendimento da distribuição dessas espécies são estágios importantes para sua conservação. O estudo da biodiversidade de peixes nessas duas unidades de conservação, além de gerar conhecimento científico sobre a região, pode responder a questões ecológicas relevantes, podendo ser considerados indicadores de qualidade do ecossistema. "Algumas espécies de peixes podem ser consideradas bioindicadoras, a presença, ausência e abundância podem indicar o estado atual do ambiente. Por exemplo, inundação de áreas para represamento da água, desvio do curso do rio, mineração e o desmatamento modificam toda a estrutura das comunidades de peixes. E o resultado de qualquer modificação poderá levar a uma redução acentuada na biodiversidade", reforçou a pesquisadora.

A equipe de pesquisadores do Instituto Mamirauá já realizou duas expedições para a região, uma em agosto de 2014 e a última em fevereiro de 2015. Durante as atividades, são coletados espécimes em diferentes ambientes, que serão posteriormente identificados em laboratório, com registro das informações de tamanho e peso. Para a coleta, são utilizados apetrechos de pesca adaptados ao tipo de ambiente.

De acordo com a pesquisadora, o inventário levará em consideração aspectos descritivos, classificatórios e filogenéticos, ou seja, desde a identificação dos animais até a análise da história evolutiva dos grupos, considerando a possível presença de espécies raras, endêmicas ou ainda não descritas.

Para cada área amostrada, também são registradas informações sobre a fisionomia dos locais. Esses dados, além de caracterizar o ambiente, permitem a verificação de possíveis relações ou variáveis ambientais nas espécies. São mensurados dados como temperatura da água, oxigênio, PH, condutividade, profundidade máxima e transparência.

Parceria entre ICMBio e Instituto Mamirauá

As pesquisas na região do Rio Jutaí foram iniciadas no ano de 2014, a partir de uma demanda do ICMBio. A Resex do Rio Jutaí foi criada em 2002 e possui a área de cerca de 275.500 hectares. Enquanto a Esec de Jutaí-Solimões possui mais de 30 anos de criação (1983), e compreende a área de cerca de 289.500 hectares. Embora sejam Unidades de Conservação criadas há bastante tempo, ricas em biodiversidade e consideradas áreas de relevante importância ecológica pela Unesco, ainda há pouco conhecimento científico sobre a região.

A proposta tem como base o termo de reciprocidade acordado entre as duas instituições, que prevê a realização de pesquisa científica em Unidades de Conservação da região do médio Solimões. A parceria entre o Instituto Mamirauá e o ICMBio também vai viabilizar a realização do inventário da biodiversidade da fauna de aves, primatas, quirópteros, répteis e anfíbios, além de um estudo socioeconômico em comunidades de algumas destas Unidades de Conservação e apoio em atividades de manejo, como na pesca manejada de pirarucu.

Outras seis áreas da região estão compreendidas pelos projetos de pesquisa do Instituto Mamirauá em parceria com o ICMBio: Reservas Extrativistas do Baixo Juruá, Rio Unini e Auati-Paraná, Estação Ecológica Juami-Japurá, Área de Relevante Interesse Ecológico Javari Buriti e Floresta Nacional de Tefé.

Texto Amanda Lelis

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