Comunidades locais apoiam conservação de quelônios

Publicado em: 10 de junho de 2013

O trabalho dos pesquisadores do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá vai além dos estudos cientí­ficos. Eles também querem ensinar cada morador das reservas Mamirauá e Amanã a conservar o ecossistema. E essa é a proposta do projeto Conservação Comunitária de Quelônios, que atua na Reserva Mamirauá: conscientizar as comunidades ribeirinhas e tê-las como aliadas na conservação dos quelônios - popularmente conhecidos como tartarugas e localmente conhecidos como bichos de casco.

O projeto atua na proteção de três espécies de quelônios: iaçá, tracajá e tartaruga-da-amazônia. "A diferença entre elas é principalmente o tamanho - sendo a tartaruga-da-amazônia a maior e a iaçá a menor. O tamanho, por sua vez, influencia  a quantidade de ovos que elas depositam.  As três espécies utilizam as praias arenosas dos rios principais para construir seus ninhos, mas a tracajá é a única que também nidifica em barrancos de lagos", explica Andreliza Del Grossi, assistente de pesquisa do projeto.

Como os animais estão ameaçados de extinção, é preciso trabalhar para mudar a cultura das comunidades. "Uma boa parte da população amazônida vê os quelônios como alimento - sejam animais adultos, filhotes ou ovos. E, assim, além do consumo nas comunidades também ocorre a venda de animais nos centros urbanos, e não existe população que sobreviva a uma demanda tão crescente", conta.


Envolvendo a população

"Nosso objetivo é que as próprias comunidades protejam as praias de nidificação", afirma Andreliza. "Basicamente nosso papel é a educação ambiental. Não basta falar o que deve ser feito: nada melhor do que a comunidade vivenciar o propósito de conservação".

Os pesquisadores ensinam que a melhor solução é cuidar dos ninhos em seus locais originais e proteger todos os recursos das praias. "Assim todo o ecossistema é conservado, auxiliando inclusive na sobrevivência de outros animais, como as gaivotas e as corta-águas". Andreliza explica que as reservas são divididas em setores, e cada setor possui algumas comunidades. "Eu atendo cerca de seis setores, e minha rotina envolve um contato muito próximo com os agentes de praia de cada comunidade". Os agentes de praia são voluntários, treinados pela equipe do Instituto Mamirauá, responsáveis por organizar e executar o trabalho de conservação.

O trabalho deste ano ainda está no início. Na semana passada foi realizada a primeira viagem do ano para planejamento e organização das atividades com os comunitários. A pesquisadora conta que a temporada de reprodução iniciará em fins de julho e início de agosto, dependendo do nível da água e do surgimento das primeiras praias. Durante esta época, ela passará cerca de cinco dias em cada setor acompanhando o trabalho das comunidades. "Os filhotes nascem em dezembro, mas o trabalho é intenso durante toda a seca. Os comunitários identificam os ninhos, revezam-se na vigilância da praia para evitar a predação humana tanto de fêmeas quanto de ovos, e protegem os ninhos quando há indícios de problemas", relata. E com essa atuação, a taxa de sobrevivência dos animais é muito maior. "Se não houvesse essa participação, os animais seriam presas fáceis para os caçadores".

Em 2012, 39 comunidades se envolveram em atividades de conservação de quelônios, totalizando 30 áreas de nidificação protegidas. Ao todo foram contabilizados 1448 ninhos de iaçá, 673 ninhos de tracajá e 134 ninhos de tartaruga-da-amazônia, conta a bióloga Cássia Camillo, do Projeto Aquavert.

O Instituto Mamirauá também conta com outros dois projetos que envolvem quelônios - Ecologia Reprodutiva e Monitoramento Populacional. Os três projetos são parte de um projeto maior - "Conservação de Vertebrados Aquáticos Amazônicos - Aquavert", que visa também à conservação de jacarés e mamíferos aquáticos. O projeto Aquavert é desenvolvidos pelo Instituto Mamirauá e patrocinado pela Petrobras, através do Programa Petrobras Ambiental.

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