Ciência e tradição se unem para a conservação do peixe-boi

Publicado em: 11 de maio de 2011

11/05/2011 - Quinze ex-caçadores participaram, no último final de semana (6 a 8 de maio), do III Diagnóstico Rural Participativo - Encontro de Conhecedores de Peixe-Boi da Reserva Amanã, realizado na comunidade Boa Vista do Calafate. O encontro foi uma iniciativa do Instituto Mamirauá, por meio do projeto Conservação de Vertebrados Aquáticos Amazônicos (Aquavert), com patrocínio da Petrobras, através do Programa Petrobras Ambiental. O objetivo foi estreitar os laços existentes entre pesquisadores do Instituto e moradores da reserva que, juntos, desenvolvem medidas para a conservação do peixe-boi amazônico.

"Somos pesquisadores, estudamos para isso, e estamos aqui para escutar vocês, que são os cientistas do dia-a-dia". Assim a oceanógrafa Miriam Marmontel - coordenadora do projeto Aquavert e do Grupo de Pesquisas em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto Mamirauá - deu as boas vindas aos moradores da reserva que participaram do encontro.

Desde 2001, o Instituto Mamirauá interage com os moradores da reserva Amanã, a fim de envolver o conhecimento tradicional no desenvolvimento de pesquisas destinadas à conservação do peixe-boi amazônico na reserva criada em 1998. Este trabalho começou com o envolvimento de moradores com grande conhecimento sobre peixe-boi - a maioria deles com histórico de caça da espécie - nas capturas científicas desenvolvidas para rádio-marcar alguns animais.

A partir dos relatos dos moradores da reserva, registrados nos dois primeiros DRPs (realizados em 2002 e 2004), os pesquisadores do Instituto catalogaram uma variedade de plantas aquáticas utilizadas como alimento pelos peixes-boi. As descobertas de rotas de migração dos animais entre a cheia e a seca na região também foram fruto dos relatos dos conhecedores de peixe-boi, juntamente com pesquisas de telemetria.


Novas alternativas econômicas e educação ambiental contribuem para a diminuição da caça

A falta de alternativas econômicas justificou a caça do peixe-boi em Amanã no início do século XX, quando os "arigós", nordestinos recém-chegados à Amazônia, ainda buscavam meios de adaptação a uma região tão distinta de seu local de origem. "Não tinha outro jeito, a gente era forçado a fazer aquilo. Não existia banana, não existia roça, porque não tinha comprador. Era o jeito a gente matar peixe-boi", ressaltou o agricultor Esmeraldo Umbelino da Silva, o "Cabral", 48 anos, antigo caçador, filho de imigrantes cearenses.

"Os velhos já não conseguem mais caçar, e os novos já não se interessam mais por isso. Agora eles querem estudar". A constatação, animadora para a conservação do peixe-boi, foi feita por Sebastião Pereira, 76 anos, que foi um dos caçadores de maior fama em Amanã. Pereira, que acredita ter matado mais de 100 peixes-boi, largou a caça há sete anos, após participar de ações de educação ambiental desenvolvidas pelo Instituto Mamirauá na reserva Amanã.
Por Augusto Rodrigues, comunicador Aquavert

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