Tecnologias sociais possibilitam acesso a serviços básicos indisponíveis para ribeirinhos do Amazonas, como água e energia

Publicado em: 14 de julho de 2017

Ainda hoje, muitos moradores de comunidades ribeirinhas do Amazonas, distantes da zona urbana, lidam com a dificuldade de acesso os serviços como energia elétrica e abastecimento domiciliar de água. Buscar água no rio para as atividades domésticas e para consumo e a falta de energia elétrica ainda fazem parte da rotina de parte desta população. Os resultados de pesquisa científica apontaram que duas tecnologias sociais desenvolvidas ou implementadas pelo Instituto Mamirauá atendem à parte das demandas da população local para melhoria de qualidade de vida.

A pesquisa avaliou a percepção dos usuários do Sistema de Bombeamento e Abastecimento de Água e do Sistema de Energia Domiciliar, ambos movido a energia solar fotovoltaica, implementados há mais de 10 anos pelo Instituto como tecnologias experimentais que pudessem servir de referencia ao poder público para o fornecimento de água e energia para esta população. Foram entrevistados 47 usuários das tecnologias das comunidades São Francisco do Aiucá e São Paulo do Coraci, localizadas nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, abrange os municípios de Uarini, Fonte Boa e Maraã (AM).

"Essas comunidades estão inseridas em duas unidades de conservação que têm suas regras de uso, uma legislação que ampara todo este território. São territórios de conservação, onde há a atuação de diversos agentes nessas áreas", comentou Ana Claudeíse Nascimento, socióloga e pesquisadora do Instituto Mamirauá – unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.

Entre os temas questionados nas entrevistas, 98% das pessoas informaram que o sistema de água é o bem mais valioso da comunidade; e 81% defenderam a privacidade promovida por essa tecnologia para higiene pessoal. Sobre o sistema de energia domiciliar, 55% dos entrevistados relataram a importância para a família de ter energia em casa 24h, mesmo que o sistema de iluminação não atendesse toda a demanda local de energia.  

"Esse experimento foi desenvolvido pelo IEE/USP (Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo) e implementado pelo Instituto Mamirauá, sendo projetado para atender uma pequena demanda de energia elétrica domiciliar, como pontos de luz, uma tomada para o uso de TV, ou ventilador, ou liquidificador.  Essa quantidade de energia ofertada ainda não supre a necessidade das famílias, sua principal demanda e consumo é para o funcionamento do freezer", contou Claudeíse.

A pesquisadora destaca que a ausência de energia elétrica contínua e abastecimento de água nessas regiões foram pontos considerados para o desenvolvimento dessas tecnologias. "Então, como se pensar uma intervenção diante deste contexto de ausência dos serviços públicos? E para se pensar em atender essas demandas existentes, tem que levar em consideração todas as variáveis de falta de energia, de saneamento, a questão ambiental, a variação do rio", comentou Claudeíse.

A socióloga explica que a iniciativa tende a ter mais sucesso quando há o envolvimento da comunidade, o processo de apropriação é facilitado por meio do incentivo às discussões para que se construa um processo participativo de gestão da tecnologia e inclusão social, já que essas iniciativas são pensadas para atender as demandas locais. As tecnologias sociais resultam em mudanças e mudanças para melhor, por que têm um envolvimento coletivo, seja do usuário lá na ponta, do ator direto que está provocando a ação, seja de parceiros como prefeitura para manter e dar continuidade naquele projeto", concluiu.

Esta pesquisa foi desenvolvida como projeto de doutorado no programa de pós-graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Pará.

Texto: Amanda Lelis

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