Oferta de presas determina uso de ilhas fluviais por onças-pintadas na Amazônia Central

Publicado em: 27 de junho de 2018

Pesquisa investigou a presença de felinos nas ilhas de rio associada à abundância de presas

A dinâmica dos rios na Amazônia forma as ilhas fluviais que, assim como surgem, podem sumir em questão de poucos anos. Preguiças, macacos e outros animais que vivem na copa das árvores são habitantes comuns das ilhas de rio, porém até a onça-pintada, o maior felino das Américas, é visto em pequenos pedaços de terra como esses. Um estudo recente, feito por um pesquisador associado do Instituto Mamirauá, indica que a oferta de alimentos pode determinar a presença de onças em ilhas fluviais na Amazônia Central.

Predadoras de topo de cadeia, as onças-pintadas são animais flexíveis. Esses felinos terrestres conseguem se adaptar bem a ambientes alagáveis, como é o caso das florestas amazônicas de várzea. Na temporada de cheia dos rios, as onças percorrem, a nado, lagos e rios da região e chegam a viver durante meses em copas de árvores, comportamento monitorado e registrado pela primeira vez por uma equipe científica do Instituto Mamirauá.

A mais nova pesquisa associada ao instituto investigou os motivos que levam onças-pintadas a se deslocar pelos corpos d’água e entre diversos habitats da floresta. Foi avaliado se a ocorrência de onças-pintadas em áreas isoladas pela água, como as ilhas, é diferente de áreas florestais contínuas e como a abundância de presas influencia a frequência de onças nesses lugares.

Para isso, o ecólogo Rafael Rabelo, que assina o estudo, fez um levantamento de duas espécies predadas por onças (o macaco guariba – Alouatta juara e a preguiça comum – Bradypus variegatus) em 24 locais na Reserva Mamirauá, dentre eles 15 ilhas fluviais e 9 áreas de floresta contínua.

"A amostragem foi feita por meio de registros de avistamentos e vestígios, tais como pegadas e fezes, ao longo de trilhas, e foi repetida quatro vezes em todos os sítios para obter o histórico de detecção da onça-pintada", explica o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e associado do Instituto Mamirauá. Com base nos dados coletados, Rafael calculou as probabilidades de detecção e ocorrência de onças-pintadas em cada local.

"Descobri que a probabilidade de um local ser utilizado pela onça é de 75%, tanto nas ilhas, quanto na floresta contínua. Ou seja, a chance de encontrar um vestígio de onça em uma ilha é a mesma que na floresta contínua", afirma Rafael. De acordo com o pesquisador, esses resultados analíticos sugerem que a água que circunda as ilhas fluviais não afeta os padrões de uso do espaço e o movimento de onças-pintadas na paisagem.

"Além disso, encontrei que quanto maior a abundância das presas em um determinado local, maior será a chance de uma onça estar presente nesse local", ressalta. De acordo com o pesquisador, esse resultado indica que a busca por recursos alimentares pode ser o fator motivacional para as onças usarem as ilhas. 

Preguiças podem ser as presas preferidas

Os números do estudo também indicam que as duas espécies de presas influenciaram na probabilidade de ocorrência da onça com a mesma intensidade, mesmo que a abundância das preguiças tenha sido menor. "Ainda que a abundância de preguiças seja menor que a de guaribas, ambas espécies tiveram o mesmo efeito na probabilidade de ocorrência das onças, o que pode estar associado a uma preferência da onça-pintada por essa espécie de presa", afirma.

Estudo em destaque em simpósio de conservação na Amazônia

A pesquisa, chamada "Abundância de presas determina o uso de ilhas fluviais por onça-pintada (Panthera onca) na Amazônia Central", será apresentada durante os próximos dias 3 a 6 de julho em evento especializado do Instituto Mamirauá. O Simpósio sobre Conservação e Manejo Participativo na Amazônia (Simcon) chega à 15ª edição no município de Tefé, Amazonas, com apresentações e oficinas que dão foco a iniciativas de pesquisa e extensão para a conservação do meio ambiente e desenvolvimento sustentável da região. O evento conta com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam). Saiba mais em https://www.mamiraua.org.br/simcon

Texto: João Cunha

 

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