Bolsistas de iniciação científica do Instituto Mamirauá apresentam resultados de suas pesquisas

Publicado em: 11 de julho de 2014

O Instituto Mamirauá desenvolve desde 2004 o Programa Institucional de bolsa de Iniciação Científica. Orientados por pesquisadores do próprio Instituto, estudantes de nível médio e de nível superior podem desenvolver trabalhos de pesquisa com diferentes temáticas. Para João Paulo Borges Pedro, um dos coordenadores do programa, esta bolsa "é uma oportunidade singular para os estudantes Tefé e da região, uma vez que propicia aos bolsistas selecionados um contato direto e prático com as mais variadas atividades de pesquisa científica nas diversas áreas do conhecimento, como Biologia, Sociologia, Tecnologias, entre outros". Durante o 11º Simpósio sobre Conservação e Manejo Participativo na Amazônia, que ocorreu de 1º a 3 de julho, diversos trabalhos desenvolvidos por estes bolsistas de iniciação científica figuraram entre painéis e apresentações orais. 
 
Eliomara Ramos, recém-formada em pedagogia, apresentou o trabalho Fé e polí­tica: o processo de formação de lideranças leigas na prelazia de Tefé. Orientado por Nelissa Peralta, o resumo do trabalho aponta que "os principais elementos pedagógicos no processo de formação de lideranças foram: a educação popular baseada na realidade do educando; uma mística voltada para a transformação da realidade social; e o uso de linguagem popular. As lideranças formadas atuam hoje nos diversos setores da sociedade, como no Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, como profissionais da educação pelo estado e pelas prefeituras, nas secretarias municipais, nas organizações não governamentais, não só em Tefé como nos diversos municípios que compõem a Prelazia, assim como no Governo do Estado no Centro Estadual de Unidades de Conservação". 
 
A Teologia da Libertação e as ações coordenadas pelo Movimento de Educação de Base representam importantes mudanças de paradigmas na Igreja Católica e norteiam a formação de lideranças comunitárias críticas. Os próprios entrevistados afirmaram para Eliomara que sua formação educacional, proporcionada pela Prelazia de Tefé, envolvia questões tanto religiosas quanto polí­ticas. "Isso porque era uma educação que não separava fé e vida, que andavam juntas. Os cursos tinham que ter temas políticos, sindicais e religiosos. E essas lideranças foram fundamentais no processo de criação das Reservas aqui na região", mostra a bolsista. 
 
Outro trabalho apresentado, desta vez na forma de painel, foi o de Quezia Chaves. História de vida de um tuxaua, com orientação de Rafael Barbi e coautoria de Hilkiene Silva, parte dos relatos orais de seu Paulo, índio Caixana e tuxaua da comunidade Projeto Mapi há 21 anos, em Tefé.  Quezia diz que "a proposta é que eles contem, que eles falem o que eles querem falar".  A história contada através da narrativa de seu Paulo extrapola histórias oficiais, mostrando a partir da experiência pessoal o que escapa a outros relatos.  "As narrativas de trajetória de vida de seu Paulo não apresentam uma ordem, cronológica ou factual, e sim momentos em que muitas vezes, percebe-se a existência de um grande período de um acontecimento para outro. Entretanto, acreditamos que aquilo que é lembrando deve ser muito mais importante para o narrador do que aquilo que não é lembrado ou contado. As datas dos acontecimentos não interessam tanto e sim a intensidade que cada momento é lembrado", mostra Quezia em seu resumo.
 
O trabalho apresentado no Simpósio é um resultado parcial, centrado no relato do seu Paulo.  Mas a pesquisa envolve outros narradores, entre eles seu Pedro, irmão do primeiro. Aqui as duas pesquisas se cruzam. Quezia conta que "O seu Pedro começou a falar que era animador de setor, que era professor, que era instrutor... Falou destas questões, que eu não conheço tão bem. Mas como eu já conheço o trabalho da Eliomara lembrei que animadores de setores foram formados pela Igreja Católica. Seu Pedro contou que foi ensinado pelo Irmão Falco", figura importante da Prelazia de Tefé e da formação das lideranças durante os anos 60 e 70.
 
Quezia e Eliomara são unânimes em afirmar a importância de fazer parte deste tipo de programa. Para elas, ser bolsista de iniciação científica é fundamental para o amadurecimento acadêmico, ensinando aos participantes como transitar entre pesquisadores em uma relação de orientação e de proximidade. Expor-se e apresentar o trabalho em simpósios é mais uma experiência importante. "Quem souber aproveitar esse momento tem uma experiência super valiosa, onde aprendemos muito. Para a minha formação acadêmica foi muito bom participar do programa. Como pedagoga, a proximidade que eu tive com a sociologia e com a antropologia, mais interdisciplinar, foi muito importante para o meu currículo", afirma Eliomara.
 
Por Vanessa Eyng

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