Tecnologias para monitoramento de água são instaladas em reservas na Amazônia

Publicado em:  8 de fevereiro de 2019

Onde e quando os peixes migram e quais os fatores ambientais influenciam essa migração? Essa questão vem motivando o projeto Ciência Cidadã para a Amazônia a desenvolver tecnologias acessíveis para coleta e compartilhamento de informações em vários locais. A água, elemento central que liga a Bacia Amazônica, não poderia ficar de fora.

Para monitorar as condições meteorológicas e de qualidade da água, desde essa quinta-feira, 07 de fevereiro, quatro estações de monitoramento, chamadas de AguaKits, estão instaladas em pontos estratégicos das Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, estado do Amazonas.

A tecnologia foi desenvolvida pela empresa norte-americana Conservify, uma das parceiras do projeto. Os kits contam com estações meteorológicas e sensores capazes de medir qualidade da água e nível da água. Esses são os primeiros Aguakits instalados pelo projeto Ciência Cidadã para a Amazônia em todo o bioma.

A qualidade, as variações e o nível da água são critérios importantes para pensar na conservação e o manejo de sistemas hídricos. A cada ponto, diferentes ambientes, sempre interligados, variam conforme a estação do ano. Isso influencia a vida das pessoas, o comportamento dos animais aquáticos e todos os processos biológicos.

© Maria Cecí­lia Gomes
© Maria Cecí­lia Gomes
© Vanessa Eyng

Chamados Aguakits, os sistemas vão analisar padrões de qualidade de água nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, no estado do Amazonas

O que os dados podem nos dizer?

As estações meteorológicas medirão parâmetros de precipitação, pressão atmosférica, umidade relativa, radiação solar difusa, temperatura do ar, velocidade e direção do vento. Esses dados ajudam a compor modelos de evapotranspiração, precipitação, padrões climáticos e produtividade primária. Assim, é possível entender fatores importantes da fisiologia das florestas.

Os sensores de qualidade da água medirão parâmetros de condutividade elétrica, que significa a condução de eletricidade por partículas dissolvidas na água, pH, entendendo o quão básica ou ácida a água está, o nível de oxigênio dissolvido e a temperatura da água. Esses dados permitem entender a qualidade de determinado ambiente, o que garante a ocorrência dos ciclos biológicos regulares e a sobrevivência das espécies.

Também serão utilizados sensores ultrassônicos, que medirão pelo som, de um ponto mais alto até a superfície, a subida ou a descida do nível da água. Esses dados apontam os padrões de enchente e vazante, eventos que determinam o ritmo de reprodução das espécies e o acesso à alimentação, por exemplo.  

Todos esses fatores estão interligados. Se a água de um rio sobe, a condutividade pode cair devido à diluição, assim como à temperatura. Mudanças extremas de pH podem tornar os ambientes inóspitos. Águas mais frias podem segurar mais oxigênio.

"Essas correlações ajudam a entender padrões ambientais e mudanças nos ecossistemas, muitas vezes causada por alterações naturais ou pelas atividades humanas", lembra Maria Cecí­lia Gomes, coordenadora do projeto Ciência Cidadã no Instituto Mamirauá, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).

Um desafio de escala amazônica

A Bacia Amazônica abrange uma área imensa. São mais de 6.8 milhões de quilômetros quadrados. Compreender os processos dentro dessa escala requer um volume de informações muito grande, provenientes de múltiplos lugares. "Precisamos de informações em vários pontos e por isso nos preocupamos em desenvolver tecnologia acessível, de baixo custo e amigáveis para os usuários, que são os cientistas cidadãos. As informações do Aguakits, cruzadas com as informações que teremos a partir do aplicativo Ictio, poderão nos dar subsídios para entender sobre os padrões de migração das espécies de peixes, por exemplo", lembra Paulo Olivas, da Universidade Internacional da Flórida, um dos parceiros do projeto. 

Os Aguakits são desenvolvidos com tecnologia replicável e com compartilhamento de informações. O conceito geral é simplicar, produzindo os Aguakits com materiais comuns, como canos de PVC. Esses equipamentos podem enviar os dados em tempo real, contanto que tenham conexão com a internet. Em casos onde isso não é possível, pessoas envolvidas no projeto poderão fazer o download dos dados e compartilhá-los por meio do aplicativo FieldKit, quando tiveram conexão de internet.

Pelo projeto Ciência Cidadã para a Amazônia serão instalados Aguakits em mais cinco lugares, com potencial para mais instalações no futuro. Os próximos serão instalados no baixo rio Negro, próximo ao município de Manaus, e também em Puerto Bermudas e Madidi, no Peru. "Estamos testando ferramentas importantes e criando um banco de dados. Essas informações podem nos trazer dados muito relevantes no futuro", avalia Paulo Olivas.

Trabalhando com as comunidades

Assim como o aplicativo Ictio, ferramenta digital para registros de atividades de pesca (acesse aqui), também disponibilizado pelo projeto Ciência Cidadã para a Amazônia, os Aguakits foram desenvolvidos com o objetivo de se tornarem acessíveis, para que as próprias comunidades utilizem a ferramenta no monitoramento de suas áreas.  

Como parte das atividades de instalação, no domingo (03), os moradores da comunidade ribeirinha Boca do Mamirauá puderam conhecer a tecnologia, discutir os parâmetros medidos e se envolver na proposta.

A Boca do Mamirauá é uma das comunidades dessa região do Amazonas que vem trabalhando com o Ictio também. E a correlação entre as duas iniciativas do projeto é bem direta: "De todos os dois a gente precisa. Da água e do peixe", ressalta a comunitária Francivane Martins de Oliveira. 

O projeto Ciência Cidadã para a Amazônia

O projeto Ciência Cidadã para a Amazônia é resultado do trabalho associado da Wildlife Conservation Society (WCS) em parceria com Cornell Lab of Ornithology, Florida International University, Conservify, Instituto Mamirauá, Instituto del Bien Común, San Diego Zoo Global, Fab Lab Perú, Ecoporé, Sapopema, Universidad San Francisco of Quito, Rainforest Expeditions, Fundação Universidade Federal de Rondônia, Institut de Recherche pour le Développement, Universidad de Ingeniería y Tecnología, Instituto Sinchi, ACEER, CINCIA, ProNaturaleza, Instituto de Investigaciones de la Amazonía Peruana, Institute for Global Environmental Strategies, Earth Innovation Institute, FAUNAGUA, e Fundación Omacha.

Também, colabora com redes como a Iniciativa Águas Amazônicas, o Projeto Amazon Fish, Rios Vivos Andinos, Amazon Dams Network e International Rivers. O projeto é possível graças ao apoio da Fundação Gordon e Betty Moore.


Texto: Vanessa Eyng


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