Pesquisa mostra as diferentes técnicas de armazenamento de mandiocas na Amazônia

Publicado em: 25 de outubro de 2022

Duas técnicas novas tiveram seu primeiro registro feito por arqueólogos do IDSM e demais autores do trabalho

Em setembro de 2022 foi publicado o artigo “Adaptations of pre-columbian manioc storage techniques as strategies to adapt to extreme climatic events in amazonian floodplains”, na revista científica Human Ecology. Essa produção foi elaborada pelos pesquisadores colaboradores do Instituto Mamirauá Julia Ávila, Márcio Amaral e Angela Steward, em parceria com os pesquisadores Charles Clement, Gilton Mendes dos Santos, André Junqueira e Tamara Ticktin. Nesse estudo, os autores investigaram técnicas de armazenamento de mandiocas, que se destacam como fonte de carboidratos na região e são muitas vezes processadas para a produção de farinha, um produto indispensável para as populações amazônicas do presente e do passado.

Para isso os autores se debruçaram sobre aspectos da vida cotidiana de populações ribeirinhas e indígenas de diferentes áreas das várzeas amazônicas, mantenedoras de conhecimentos ancestrais baseados em sistemas de mutualidades, uma história de sucesso na Amazônia, que já dura mais que 12 mil anos e resultou na rica biodiversidade desse ecossistema. A biodiversidade local é fundamental para os modos de vida das populações humanas locais, cuja alimentação é baseada em alimentos frescos, como peixe, caça, frutas e vegetais, sejam silvestres ou cultivados. Nesse cenário, as populações tradicionais da região conhecem e utilizam diversas técnicas de processamento, armazenamento e conservação desses alimentos. 


Foto: Julia Ávila

As estratégias locais de armazenamento das mandiocas são principalmente relevantes no drástico contexto de mudanças climáticas, onde cheias cada vez extremas são mais frequentes na Amazônia. De acordo com dados do IBGE (2017), os impactos das cheias extremas podem ser observadas em 90 % dos municípios do Estado do Amazonas. Em 2019, pelo menos 30 municípios decretaram estado de emergência devido ao alto nível da água (Jornal A Crítica 2019), o que gerou um prejuízo de mais de R$ 60 milhões de reais aos produtores agrícolas (Journal A Crítica 2019). 

A perda dos cultivos diminui a oferta local de alimentos para os ribeirinhos e inflaciona os preços dos produtos na cidade, fragilizando a segurança e soberania alimentar dos amazonenses no interior e nos centros urbanos. Assim, entender as estratégias locais de enfrentamento das populações locais é fundamental para fortalecer a segurança e soberania alimentar e favorecer a resiliência dos moradores no preocupante cenário de mudanças climáticas. 


Foto: Julia Ávila

Nesse estudo, quatro técnicas de armazenamento de mandiocas foram registradas. Duas técnicas já eram conhecidas em estudos arqueológicos ou etnográficos feitos anteriormente, o enterramento e o empaneiramento da mandioca. Porém, duas técnicas novas tiveram seu primeiro registro feito pelos autores, o ensacamento e kanaká.


Ilustrações indicando como cada uma das técnicas de mandioca é feita. (Ilustrador: Maurício Afonso)

A técnica mais famosa e utilizada na região atualmente é o ensacamento, onde as mandiocas são colhidas, descascadas, colocadas em sacos de ráfia e amarradas em flutuantes ou árvores, de forma que as raízes fiquem totalmente mergulhadas na água sem tocar o fundo do rio. Isso cria um ambiente com pouco oxigênio, que preserva as mandiocas.  

O estudo também avaliou como o conhecimento e uso dessas técnicas está distribuído nas diferentes áreas da várzea amazônica. Assim, foi possível observar a grande necessidade de disseminação das práticas de armazenamento da mandioca, já elas foram consideradas muito importantes para a adaptação dos ribeirinhos a períodos críticos e diversas famílias não as conhecem. 

Para começar a divulgação sobre o armazenamento da mandioca nas comunidades, foi elaborado um livreto em linguagem popular, que explica passo a passo como fazer cada umas das técnicas levantadas nesse estudo. Esse material já está disponível online no link . Nos próximos meses, versões impressas do livreto também são entregues nas áreas estudadas.  


Referências 
A Crítica. 2019a. 30 Municípios Decretaram Estado de Emergência Devido Ao Alto Nível Da Água.

A Crítica. 2019b. Cheia Dos Rios Do AM Causa Prejuízo de R$ 60 Milhões a Produtores: Subida Das Águas Provoca Perdas de Plantações Do Interior, Que Reflete Na Falta de Produtos Na Capital.

IBGE. 2017. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. In Perfil Dos Municípios Brasileiros. Coordenação de População e Indicadores Sociais?: IBGE, 2017., Rio de Janeir



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