As colaborações entre comunidades tradicionais e o Instituto Mamirauá
O Instituto Mamirauá é um centro de pesquisa aplicada que nasce com o propósito de fortalecer os modos de vida das comunidades tradicionais e indígenas e conservar a biodiversidade. Ao longo de mais de duas décadas, o Instituto Mamirauá, em colaboração com os ribeirinhos, desenvolveu protocolos de manejo de recursos naturais, uma importante estratégia para a conservação da biodiversidade, aliada ao fortalecimento das organizações de base comunitária para participarem da gestão e governança dos territórios. Criou um modelo único de unidade de conservação no Brasil: as reservas de desenvolvimento sustentável.
Para essa atuação singular na Amazônia, além da pesquisa, é imprescindível uma robusta estrutura de recursos humanos. A Diretoria de Manejo e Desenvolvimento do Instituto Mamirauá conta com as seguintes coordenações:

Empreendedorismo e Renda: sustentabilidade que transforma territórios
Na Amazônia Central, o Instituto Mamirauá apoia o fortalecimento de uma economia verdadeiramente sustentável, baseada na valorização dos recursos naturais e no protagonismo das populações ribeirinhas. Anualmente, mais de 25 coletivos de manejadores e manejadoras recebem assessoria técnica do Instituto, em iniciativas que vão do manejo de recursos pesqueiros e florestais à produção agroecológica, criação de abelhas nativas sem ferrão e turismo de base comunitária.
Em 2023, essas ações resultaram em um faturamento bruto de aproximadamente R$ 8 milhões, beneficiando mais de 1.800 pessoas diretamente envolvidas nas cadeias produtivas da região. Em 2024 e 2025, os projetos seguem ampliados e diversificados, agora no Pará e Amapá, reafirmando o compromisso com a geração de renda e a conservação da biodiversidade.
Entre os projetos emblemáticos está o manejo sustentável do pirarucu, criado em 1999 com base na integração entre conhecimento científico e saberes tradicionais. A experiência bem-sucedida se expandiu por toda a bacia amazônica, afastando o pirarucu do risco de extinção e gerando mais de R$ 40 milhões em renda acumulada para as famílias manejadoras.
Para aprimorar a qualidade do pescado e fortalecer essa cadeia produtiva, o Instituto Mamirauá desenvolve soluções inovadoras como a Unidade Flutuante de Recepção e Pré-Beneficiamento de Pirarucu. Construída com madeira local e participação comunitária, a unidade conta com sistemas autônomos de energia e tratamento de água, oferecendo melhores condições para o processamento inicial da carne e garantindo padrões higiênico-sanitários de excelência. O modelo reduz impactos ambientais, agrega valor ao produto e amplia os ganhos de pescadores e pescadoras.
O sucesso do manejo do pirarucu abre caminho para uma nova etapa: o manejo sustentável de jacarés, previsto para iniciar em 2025. Parte essencial dessa iniciativa é a Planta de Abate Remoto (Plantar) — um abatedouro flutuante de 112 m², alimentado por energia solar e abastecido com água tratada. A Plantar, desenvolvida conforme as normas ambientais e sanitárias estaduais, tem capacidade média de 20 abates diários, o que representa 500 quilos de carne por dia. Testada em 2020 com resultados reconhecidos pela Anvisa, a estrutura é um marco na regulamentação do manejo de jacarés e um passo importante rumo à consolidação dessa cadeia produtiva. Em 2023, o Instituto promoveu o 2º Curso de Multiplicadores em Manejo Comunitário de Jacarés, fortalecendo o conhecimento técnico das comunidades envolvidas.
A valorização dos produtos da sociobiodiversidade amazônica também avança com o apoio do Instituto às Indicações Geográficas (IGs) e à certificação orgânica. Desde 2019, o selo da Farinha Uarini (Identificação de Procedência) e, desde 2021, o da Denominação de Origem Pirarucu Manejado da Região de Mamirauá reconhecem a qualidade e a origem desses produtos. Juntos, abrangem nove municípios e quatro Unidades de Conservação, envolvendo mais de 100 produtores e 200 organizações de pescadores e pescadoras.
O Instituto Mamirauá apoia ainda o fortalecimento das entidades responsáveis por essas IGs, como a Associação dos Produtores de Farinha de Mandioca da Região de Uarini (Apru) e a Federação dos Manejadores e Manejadoras de Pirarucu de Mamirauá (Femapam), que também participa do programa de empreendedorismo da Incubadora e Aceleradora Mamirauá de Negócios Sustentáveis.
Outro destaque é a Marca Coletiva Flona de Tefé, lançada em 2023, que agrega valor a produtos derivados da mandioca e da castanha, beneficiando 110 comunidades e cerca de 4 mil agricultores e agricultoras da região.
No campo da produção orgânica, os avanços também são expressivos: 134 agricultores foram reconhecidos pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) em quatro Organizações de Controle Social (OCS), produzindo 198 tipos de alimentos orgânicos, com destaque para a tradicional farinha de mandioca.
Consolidando esse ecossistema de inovação sustentável, o Instituto formalizou a Incubadora e Aceleradora de Negócios Sustentáveis, com sede em Tefé (AM) — a única em um raio de 600 km dedicada a empreendimentos de base tecnológica e comunitária. O espaço oferece estrutura para dez iniciativas presenciais e cinco remotas, acesso a laboratórios e oficinas de tecnologias sustentáveis, além de suporte técnico e gerencial. A incubadora nasceu para impulsionar ideias, fortalecer negócios e transformar a economia local em um modelo de prosperidade com conservação.