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Instituto Mamirauá na COP 30: ciência, cooperação e futuro para a Amazônia

Escrito por

Instituto Mamirauá

Publicado em

05/12/25

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A presença do Instituto Mamirauá na COP 30, realizada em Belém entre 10 e 21 de novembro de 2025, consolidou a percepção da instituição como uma das principais referências científicas da região amazônica. Ao longo dos 12 dias do evento, a equipe participou de mais de 40 atividades, conduzindo debates, lançamentos de livros, painéis e mesas temáticas e articulações que reforçaram o papel fundamental da ciência amazônica para o enfrentamento da crise climática global.

Com 25 anos de atuação em áreas protegidas da Amazônia, sempre em parceria com comunidades tradicionais e indígenas, o Instituto levou à COP 30 uma mensagem clara: a Amazônia concentra um conhecimento estratégico para o planeta, com soluções para a crise climática geradas a partir da combinação entre ciência, tecnologia, inovação, saber local e políticas públicas orientadas ao território.

Arte, ciência e território

A agenda da instituição teve início com a inauguração da exposição Amazônia a Olhos Vistos, promovida em conjunto com a Rede Bioamazonia. A presença da Ministra Marina Silva reforçou o caráter simbólico da mostra.

“Poder apresentar a exposição à Ministra, uma referência histórica na defesa da floresta e de seus povos, foi uma honra enorme”, destacou Miguel Monteiro, fotógrafo do Instituto Mamirauá e curador da exposição.

Aberta ao público no Parque Zoobotânico Museu Goeldi, a exposição revelou os impactos que a região amazônica vem sofrendo, assim como as soluções desenvolvidas pelas instituições da Rede, marcando o início de uma participação institucional pautada pelo diálogo entre ciência, território e cultura.

Ciência e cooperação na Casa da Ciência

Ao longo da COP 30, o Instituto Mamirauá esteve presente na Casa da Ciência, espaço do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) dedicado ao diálogo entre ciência e sociedade. No local, foram discutidos temas como governança territorial, restauração ecológica, tecnologias sociais, divulgação científica e soluções baseadas na natureza.

No local, o Instituto lançou a cartilha Navegando pelas Mudanças Climáticas no Médio Solimões, aproximando crianças, jovens e famílias dos temas climáticos e territoriais. 

Bianca Darski, do Núcleo de Popularização da Ciência, Tecnologia e Inovação do Instituto, reforçou:

“Comunicar ciência é ampliar direitos. É preciso contar histórias de uma forma inclusiva. Quando as pessoas se reconhecem nas narrativas da divulgação científica, fortalecemos pontes, inspiramos reflexões e, com sorte, mudanças de olhares e hábitos.”

Esse posicionamento inspira a consolidação de uma ciência inclusiva e com impacto social.

Rede Bioamazônia e cooperação científica internacional

A COP 30 marcou ainda o fortalecimento da Rede Bioamazônia, da qual o Instituto Mamirauá é cofundador. Durante o evento, com apoio do Programa Amazônia Sempre, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), foi lançada a publicação estratégica Caminhos para a Ciência Pan-Amazônica, que estabelece prioridades regionais de pesquisa.

Segundo João Valsecchi, Diretor Geral do Instituto:

“A Rede Bioamazônia nasce com o compromisso de transformar a ciência amazônica em um esforço coletivo, colaborativo e orientado ao bem comum da região.”

A Rede Bioamazônia é formada pelos institutos Mamirauá, Goeldi e Inpa, do Brasil, Humboldt e Sinchi da Colômbia, IIAP, do Perú, Inabio, do Equador, e Instituto de Ecologia da Universidade Mayor de San Andrés, da Bolívia.

Conhecimento tradicional e governança territorial

No painel Sistemas de Conhecimento e Governança Local, apresentado por Heloisa Corrêa Pereira, Líder do Grupo de Pesquisa Territorialidades e Governança Socioambiental na Amazônia, o Instituto reforçou a centralidade dos saberes tradicionais para a gestão dos territórios amazônicos.

“O sucesso do manejo participativo e das estratégias de conservação na Amazônia depende da integração entre ciência e conhecimento local. Práticas cotidianas, como a observação dos ciclos das águas, o uso comunitário dos lagos e a contagem visual do pirarucu, mostram como o saber tradicional se transforma em instrumento de gestão territorial.”

Heloisa destacou como a trajetória do manejo do pirarucu inspirou modelos replicados em outras áreas protegidas. A combinação entre a contagem de pirarucu tradicional feita pelos pescadores, e o acompanhamento técnico do Instituto Mamirauá, evidencia o potencial dos sistemas de conhecimento locais como base para políticas públicas eficazes de gestão participativa.

Justiça climática nos territórios amazônicos

O papel histórico e atual das comunidades tradicionais e indígenas para a manutenção das áreas naturais é incalculável. No entanto, estas já são as mais atingidas pelas mudanças climáticas, assim como as populações de baixa renda nas cidades. 

Neste contexto, Vinicius Zanatto, pesquisador do Instituto Mamirauá, destacou a importância da revitalização cultural e inclusão de filosofias indígenas dentro das políticas públicas no Brasil e no mundo.  

“A floresta, como nós vemos hoje, foi construída pelas mãos de povos indígenas e povos tradicionais. As formas ancestrais de manejo criaram as condições para que a floresta exista hoje”. 

Cultura e turismo de base comunitária 

O Pavilhão do Ministério do Turismo, na Zona Verde da COP 30, recebeu a exibição do primeiro episódio da série documental “Pelos Rios da Amazônia” da Marahu Filmes. A série trata de turismo, sustentabilidade, esporte, culinária e modo de vida das populações e comunidades tradicionais dos rios Arapiuns, Guamá, Negro, Caeté, Tocantins, Tapajós, Xingu e Solimões. 

Na ocasião, ocorreu um debate sobre o turismo como fonte de renda de forma sustentável. O turismo de base comunitária é uma das frentes de atuação do Instituto Mamirauá. São 30 anos de trabalho. Na Pousada Uacari, por exemplo, são oito comunidades envolvidas na gestão. 

“Com a comunidade no centro das decisões, o turismo de base comunitária contribui com a conservação da floresta e também no enfrentamento das mudanças climáticas”, destacou Pedro Nassar, coordenador do Programa de Turismo de Base Comunitária do Instituto Mamirauá.

Declaração de Mamirauá: um marco histórico

Um dos momentos marcantes da COP 30 foi o lançamento da Declaração de Mamirauá, compromisso que reúne povos indígenas, comunidades locais, instituições científicas, governos e organizações globais para estabelecer um novo modelo de monitoramento colaborativo da biodiversidade.

Para Emiliano Ramalho, Diretor Técnico-Científico do Instituto:

“A Declaração de Mamirauá representa um ponto de virada para a conservação, com ações integradas e baseadas em evidências.”

Para Michel André, da Universidade Politécnica da Catalunha (UPC) e embaixador internacional do Instituto Mamirauá:

“É uma resposta unificada e urgente às demandas globais de proteção da Amazônia”.

O documento inaugura um novo capítulo para a governança da biodiversidade amazônica e poderá orientar políticas e ações colaborativas pelas próximas décadas. Mais de 30 instituições, entre elas Instituto Mamirauá, UPC, INPA, WCS, WWF, Imazon, Fundação Alana, Goeldi e XPRIZE, já aderiram à iniciativa.

Amazônia em transformação: pesquisas e soluções

Painéis dedicados a mudanças climáticas, biodiversidade e recursos hídricos reforçaram o papel do Instituto Mamirauá no monitoramento do clima, a exemplo das secas extremas de 2023 e 2024.

O pesquisador Ayan Fleischmann, Líder do Grupo de Pesquisa em Geociências e Dinâmicas Ambientais na Amazônia, destacou:

“A seca extrema isolou comunidades e impactou severamente a pesca e o acesso à água. Entender esses processos é essencial para desenvolver medidas de adaptação junto às populações ribeirinhas.”

Tecnologias sociais e bioeconomia

A Casa Ciência também foi cenário de discussões sobre conhecimento e gestão integrada da biodiversidade na Pan-Amazônia. 

Para a Diretora de Manejo e Desenvolvimento do Instituto Mamirauá, Dávila Corrêa: 

“As iniciativas voltadas à bioeconomia que o Instituto Mamirauá vem desenvolvendo, como o manejo sustentável do pirarucu, programa que completou 25 anos, são ainda uma referência internacional em conservação da biodiversidade e geração de renda”.

Dávila também ressaltou os avanços e desafios da bioeconomia no cenário amazônico, reforçando a importância da participação das comunidades locais na construção dessas iniciativas.

“É importante olhar para a Amazônia não como um laboratório, mas um território vivo que já vem desenvolvendo e aplicando práticas de manejo da sociobiodiversidade enquanto soluções, inclusive para adaptação climática”. 

No evento, foi lançada a Carta Proposta para a COP 30, a qual foi elaborada por participantes do 2º Encontro de Tecnologia Social da Amazônia — representantes de comunidades tradicionais, povos originários, organizações da sociedade civil, instituições de ensino e pesquisa, empreendimentos solidários e gestores públicos — reunidos em junho de 2025 em Manaus. A carta expressa uma voz amazônida e popular pela justiça climática, valorizando os saberes locais e as tecnologias sociais que nascem dos territórios.

Fortalecimento do manejo participativo dos recursos naturais

O Instituto também avançou em parcerias estratégicas, como o termo de cooperação firmado com o Governo do Pará, via Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuária e da Pesca. O termo representa uma importante aliança, com ações voltadas para as Reservas Extrativistas do Salgado Paraense.

Tabatha Benitz, Coordenadora do Núcleo de Inovação e Tecnologias Sustentáveis do Instituto, afirmou:

“Esse termo consolida uma articulação essencial para fortalecer cadeias produtivas sustentáveis e garantir melhores condições de trabalho para as comunidades.”

A parceria ocorreu no âmbito do projeto Entre Águas Amazônicas, que é desenvolvido em conjunto com o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação. A Fundação Moore também apoia ações em sinergia com essas atividades de curto e longo prazo, através do projeto Sustenta Mangue.

Ciência em campo: desafios e infraestrutura

Na Casa da Biodiversidade e Clima, a Diretora Administrativa do Instituto, Joyce Sousa, levou reflexões sobre a logística de instituições de pesquisa:

“Realizar ciência na Amazônia exige uma infraestrutura robusta e constante adaptação às condições ambientais. A logística é parte fundamental da pesquisa.”

Uma participação que inspira o futuro

A COP 30 reforçou que a Amazônia é protagonista na agenda climática global. Com ciência sólida, alianças estratégicas e forte presença comunitária, o Instituto Mamirauá mostrou que soluções para o futuro do planeta passam pela valorização dos territórios, dos conhecimentos tradicionais e da cooperação internacional. Mais do que apresentar resultados, o Instituto retorna da COP 30 com novos compromissos, redes fortalecidas e um legado de esperança e ação para as próximas décadas.

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