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Mulheres do Teçume d’Amazônia celebram 25 anos de história, memória e fortalecimento comunitário 

Escrito por

Instituto Mamirauá

Publicado em

16/12/25

O grupo Teçume d’Amazônia completou 25 anos reunindo artesãs, comunidades e parceiros na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã (AM). O encontro reforçou a trajetória construída por gerações de mulheres, suas conquistas econômicas e sociais, e a força coletiva que sustenta o teçume como símbolo de resistência e identidade. 

No final de semana do dia 6 e 7 de dezembro, na comunidade São João do Ipecaçu, localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã (AM), as mulheres do Setor Coraci, que compõem o grupo Teçume d’Amazônia, realizaram um evento de comemoração aos seus 25 anos. Os dois dias foram imersos nas memórias da construção do grupo, e reuniu parceiros como o Instituto Mamirauá, a Fundação Amazônia Sustentavel (FAS), Federação dos Manejadores e Manejadoras de Pirarucu de Mamirauá (FEMAPAM) e Universidade Paulista (UNIP). 

O encontro iniciou com a retomada da história do Teçume d’Amazônia, seguida de dinâmicas em grupo, palestras e rodas de conversa que abordaram temas como empreendedorismo, saúde da mulher, manejo de pesca e ações socioambientais na Amazônia, promovendo troca de experiências entre os participantes e instituições parceiras. Além disso, o álbum de memória Teçume d’Amazônia, que registrou a trajetória e o legado do grupo ao longo de seus 25 anos, foi distribuído para os participantes do evento. A programação também ofereceu atendimentos voltados ao bem-estar, com a realização de exames preventivos e a oferta de procedimentos estéticos conduzidos por enfermeiras e esteticistas da UNIP, fortalecendo o cuidado integral com a saúde. 

Durante o evento, foi exibido um filme tratando da memória e força do grupo, cuja produção contou com a colaboração da assessoria de comunicação do Instituto Mamirauá. O vídeo está disponível em https://www.youtube.com/watch?v=6Ta7JecX1RA 

À noite, o centro comunitário foi palco de uma noite cultural agitada. A comunidade e os parceiros se reuniram para a exibição de um documentário abordando a trajetória do grupo, apresentações musicais, bingo e um desfile que destacou as tinturas e os grafismos do teçume, com roupas confeccionadas pelas artesãs Geovana da Silva de Souza e Silene da Silva Cardoso. 

A dimensão coletiva e intergeracional do encontro também foi destacada por Dávila Corrêa, diretora de Manejo e Desenvolvimento do Instituto Mamirauá, que acompanhou a celebração. Para ela, o evento reafirmou a força das memórias compartilhadas e o envolvimento amplo da comunidade na construção dessa trajetória: “Foi muito mais do que uma comemoração. O encontro foi carregado de significado, de anos de história e de emoção. Era nítido o clima de pertencimento e orgulho coletivo, com homens, mulheres, crianças e jovens participando ativamente das atividades culturais, falando, se emocionando e trocando experiências. Esse envolvimento mostrou o quanto as memórias coletivas seguem vivas e pulsantes na comunidade”, afirmou. 

Segundo Dávila, a participação dos homens e das crianças reforçou o caráter comunitário da celebração e o reconhecimento do trabalho das mulheres. “Foi bonito ver o olhar de admiração entre eles, as crianças acompanhando o documentário e o álbum de memórias, e as diferentes gerações reunidas em torno dessa história. É um momento que reafirma a cooperação, o trabalho solidário e a transmissão desse legado para o futuro”, completou. 

Durante os dois dias, os relatos marcantes e emocionados das artesãs rememoraram desafios e conquistas de mais de duas décadas de trabalho coletivo. Expressões como “25 anos não são 25 dias” e “foram 25 anos de muita luta, mas também de muita conquista” foram recorrentes. As falas evidenciaram o orgulho compartilhado entre gerações de netas, filhas, irmãs e sobrinhas que partilham de um mesmo conhecimento, reforçando a transmissão contínua do saber tradicional, associado ao manejo do cauaçu e à produção artesanal.  Além disso, o papel dos homens da comunidade se destacou diante da mobilização dos maridos e filhos para fazer o evento acontecer, bem como fazem no dia a dia da família, ajudando as mulheres na cadeia produtiva do teçume, na colheita do cauaçu e nos cuidados do lar. 

Uma das falas que marcou o evento foi a de Maria Marly das Chagas de Oliveira, que relembrou a trajetória coletiva das mulheres do Teçume: “Quando eu entrei no Teçume, eu nem sabia direito como caminhar sozinha. A gente aprendeu juntas, errando, acertando, correndo até de onça quando precisava. No começo, eu passei dez anos na coordenação sem saber me organizar, mas o grupo me segurou. Foi como família: compramos nosso primeiro batom, nossa primeira roupa para viajar, choramos, rimos e crescemos lado a lado. Tudo o que vivemos valeu a pena. Foram 25 anos difíceis, mas 25 anos conquistados.”  

Outro destaque foi o depoimento da jovem artesã Daniele da Silva da Mota, que há cinco anos participa do coletivo: “Quando fui convidada a fazer parte do Teçume, eu fiquei muito feliz, porque sempre admirei essas mulheres. E era um momento que eu precisava de uma renda. Eu não sabia tecer nada, e elas me ensinaram. E hoje tenho essa profissão de artesã, que eu amo muito”.  

Teçume d’Amazônia 

O Teçume d’Amazônia surgiu nos anos 2000, inicialmente como coletivo de mulheres do setor Coraci, e contou com o apoio do Programa de Artesanato do Instituto Mamirauá. As 32 mulheres que iniciaram o grupo, representantes das comunidades Iracema, Matuzalém, Nova Canaã, Vila Nova do Coraci, São Paulo do Coraci e São João do Ipecaçu, participaram de oficinas, vivências e capacitações em parceria com Instituto Mamirauá e SEBRAE-AM, aprendendo técnicas de manejo e beneficiamento da fibra de cauaçu para produzir peças artesanais. Ao longo de sua trajetória, arrecadou muitas outras parceiras institucionais e comerciais. 

O Teçume d’Amazônia transformou profundamente a vida das mulheres e de suas comunidades. O artesanato garantiu novas fontes de renda, ampliou a autonomia financeira e abriu oportunidades que antes não existiam, permitindo que muitas mulheres contribuíssem diretamente para o sustento familiar. Essa renda movimentou a economia local, fortaleceu a circulação de produtos e serviços nas próprias comunidades e estimulou novas iniciativas de organização e empreendedorismo. O grupo também promoveu mudanças nas relações familiares e comunitárias, aumentando o reconhecimento do trabalho feminino e inspirando jovens que passaram a aprender e valorizar o conhecimento transmitido entre gerações. 

Com o amadurecimento do trabalho, o grupo conquistou reconhecimento institucional e comercial, ampliando sua atuação e representatividade para além da região e alcançando mercados nacionais. Tornou-se referência em artesanato de origem florestal, marcado pela habilidade, pela criatividade e pela força coletiva das mulheres da Amazônia. Dentre suas conquistas mais significativas estiveram as diversas premiações que receberam durante os anos, e a participação na COP 30, quando apresentaram sua experiência de manejo sustentável do cauaçu e sua trajetória de organização comunitária no principal debate global sobre clima. A presença do Teçume nesse espaço reforçou o valor dos conhecimentos tradicionais para soluções ambientais e evidenciou que enfrentar a crise climática exige fortalecer territórios, promover justiça social e reconhecer o protagonismo feminino.  

A consolidação do grupo transformou a organização comunitária, ampliou a participação das mulheres na conservação da floresta e nos espaços de tomada de decisão e fortaleceu a identidade artesanal da região, reafirmando o teçume como símbolo de resistência, criatividade e futuro. 

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