Workshop reúne especialistas de diversas organizações para planejar ações emergenciais

Publicado em:  3 de maio de 2024

Após uma série de eventos climáticos extremos na Amazônia, entre setembro e novembro de 2023, que desencadearam a mortandade de pelo menos 330 botos-vermelho e tucuxis, uma grande equipe de especialistas de instituições governamentais, organizações da sociedade civil, profissionais, comunidades locais e voluntários se mobilizaram em Tefé e Coari, no Amazonas, para realizar monitoramento, pesquisa e agir eficientemente para auxiliar na gestão da crise.

Nos dias 9 e 10 de abril, foi realizado o “Workshop de Alinhamento e Lições Aprendidas com a Emergência de Botos: Monitoramento, preparação e respostas emergenciais” com o intuito de desenvolver medidas a partir das lições aprendidas de resposta emergencial que foi implementada no ano passado, a fim de reduzir os impactos na população de botos e outras espécies como o peixe-boi e seus ecossistemas. O evento foi sediado no Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Amazônica (CEPAM), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), localizado na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), na cidade de Manaus (AM).

São muitos os esforços que estão sendo realizados por diversas organizações que, durante o Workshop, abordaram a análise das ações executadas mediante o Comando de Incidentes (CI) liderado pela Coordenação de Emergências Climáticas e Epizootias do ICMBio, assim como os diagnósticos e pesquisas científicas para entender a forma mais estratégica de agir em outros possíveis cenários. Para Ayan Fleischmann, líder do Grupo de Pesquisa em Geociências e Dinâmicas Ambientais na Amazônia, do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, “toda ação emergencial e todo manejo de uma espécie requer recursos e dados que têm que ser baseados em ciência, em dados científicos e aí que entra o grande papel de nós cientistas e pesquisadores em auxiliar esse tipo de crise”.

© Camila Batista / WWF Brasil
© Camila Batista / WWF Brasil
© Camila Batista / WWF Brasil

Foram exatamente esses aprendizados que levaram o Instituto Mamirauá a monitorar em tempo real os ecossistemas e os fatores que podem influenciar o ambiente das espécies, tais como a temperatura da água, o fluxo do rio, a chuva, a radiação solar e o vento que em conjunto são variáveis interferentes no ecossistema de espécies sentinelas como o boto-vermelho (Inia geoffrensis) e o tucuxi (Sotalia fluviatilis). Elas conseguem indicar o desequilíbrio que pode ter um ecossistema demonstrando um comportamento de estresse, podendo ser um alerta para todos nós.

A seca na Amazônia está relacionada com o aumento de temperatura no Atlântico Tropical Norte que continua persistindo e potencializou os efeitos do fenômeno El Niño em 2023. Entre as causas do aquecimento das águas dos lagos Tefé e Coari, que tem sido apontado como um dos principais fatores para a grande mortandade de animais, estão o aumento da radiação solar, pela falta de cobertura de nuvens, o que levou ao aquecimento anormal das águas dos rios e lagos.

De acordo com Miriam Marmontel, líder no Grupo de Pesquisas de Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto Mamirauá, as pesquisas ambientais e biológicas no lago Tefé já estavam sendo realizadas em unidades de conservação amazônicas e ao ampliá-las para esses lagos permitem que se forme uma base de conhecimentos para a prevenção de tragédias como a que aconteceu no ano passado.

Ela ainda aponta que as comunidades foram essenciais na detecção da crise emergencial com os botos: “eles também nos ajudam a perceber o que aconteceu. O primeiro alerta veio da sociedade de Tefé, de moradores locais que sabem que trabalhamos com os botos e avisaram - olha o lago está com uma grande mortandade de botos, uma coisa inusual para nós - e eles perceberam isso”. O engajamento dessas comunidades é muito importante para o monitoramento das espécies e de seus ecossistemas.

Há expectativas entre as organizações de que a partir deste Workshop seja possível estarmos melhor preparados para os próximos eventos de seca extrema, e para tanto é necessário formalizar e estruturar a aliança entre as organizações definindo os papéis para cada uma.  Dando continuidade ao processo, está sendo realizado um levantamento de potenciais atores que possam contribuir com o Comando de Incidente através de operações, planejamento, logística, finanças, doações e publicização da informação.

Além do Comando de Incidente (CI) que é ativado mediante um protocolo emergencial pelo ICMBio, há o Plano de Ação Nacional para a Conservação de Mamíferos Aquáticos Amazônicos Ameaçados de Extinção (PAN Mamíferos Aquáticos Amazônicos), construído por diversos especialistas no tema e outros atores e que tem como objetivo reduzir as pressões da ação humana e aumentar o conhecimento sobre essas espécies.

As ações emergenciais derivadas pelos eventos climáticos extremos de 2023 foram discutidas no PAN, conforme explica Ingrid Oberg, analista ambiental do ICMBio e representante do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos (CMA): “a realização deste Workshop para fazer um planejamento emergencial por conta do incidente que ocorreu com a mortandade de botos é uma ação nova incluída este ano no PAN e hoje começa a execução desta ação com esse planejamento emergencial que terá continuidade”.

Entre as espécies contempladas nos PAN Mamíferos Aquáticos Amazônicos estão o boto-vermelho (Inia geoffrensis), o peixe-boi-amazônico (Trichechus inunguis), a ariranha (Pteronura brasiliensis), o tucuxi (Sotalia fluviatilis), a lontra (Lontra longicaudis) e o boto-do-araguaia (Inia araguaiaensis), todas elas sob diferentes graus de ameaça.

As ações em andamento já indicam uma expectativa de melhoria nas ações preventivas para uma próxima seca na Amazônia. Mariana Paschoalini Frias, analista de conservação do WWF-Brasil, exalta:

“Então para a gente prevenir a gente precisa estudar o cenário, contar com a colaboração de todos os atores e inclusive aqueles que não estiveram envolvidos durante a emergência, mas que são potenciais colaboradores, e, sair com medidas, protocolos de mitigação, de preparação, de resgate antes, durante e após uma emergência”.

Entre os participantes do Workshop estiveram diversos setores governamentais, Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos (CMA), Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Amazônica (CEPAM) e Coordenação de Emergências Climáticas e Epizootias, Coordenação Geral de Emergências Ambientais do ICMBio, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM), Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN), Serviço Geológico do Brasil (SGB), Fundação Oswaldo Cruz - Instituto Leônidas e Maria Deane (IDLM/Fiocruz), Defesa Civil do Amazonas.

Da sociedade civil, National Marine Mammal Foundation (NMMF), Associação dos Amigos do Peixe-boi (AMPA), Associação R3 Animal (R3), Sea Shepherd Brasil, Wildlife Conservation Society (WCS), Fundação Mamíferos Aquáticos (FMA), Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis), YAQU PACHA, WWF-Brasil.

De instituições de pesquisa científica, o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, Laboratório de Patologia Comparada de Animais Silvestres da Universidade de São Paulo (LAPCOM/USP), Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA); de instituições de ensino, Universidade Evangélica de Goiás (UniEvangélica), Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Colégio Militar do Tocantins; e do setor empresarial, AMBIPAR, Aiuká Consultoria Ambiental, Aqua Viridi Consultoria Ambiental.

A oficina foi facilitada pelo WWF-Brasil como articulador e membro do Comando de Incidente instaurado e articulador de ações do PAN Mamíferos Aquáticos Amazônicos.

Por Mariana Gutiérrez, do WWF-Brasil

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