Três onças-pintadas recebem colares com transmissores e são monitoradas pelo Instituto Mamirauá

Publicado em: 17 de abril de 2015

Iniciado o ciclo da cheia, com o aumento do nível da água, na Reserva Mamirauá, os pesquisadores do Instituto Mamirauá vão a campo para a campanha de captura de onças-pintadas, realizada nos meses de dezembro, janeiro e março. Em 2015, três animais foram capturados e são agora monitorados pelos pesquisadores. Os três animais, apelidados de Pérola, Baden e Caçulão, são adultos: uma fêmea preta (melânica), e dois machos.

Uma ocorrência interessante foi a recaptura de Baden, animal que já havia sido capturado e  monitorado durante o ano de 2014, o que permite aos pesquisadores acompanharem seu comportamento por um período mais longo, gerando mais informações para o estudo. De acordo com o pesquisador Emiliano Esterci Ramalho, líder do Grupo de Pesquisa em Ecologia e Conservação de Felinos na Amazônia, desde a primeira captura, em 2008, todos os animais observados possuem bom estado de saúde.

O principal objetivo do estudo é entender a ecologia da onça-pintada nas florestas inundáveis da Amazônia, buscando conhecer como as onças se movimentam e a influência da alteração do ambiente pelo fluxo das águas (enchente, cheia, vazante e seca) no comportamento dos animais. As capturas também permitem aos pesquisadores avaliar o estado de saúde dos animais e detectar quais patógenos e parasitas estão presentes na população de onças da região.

O pesquisador citou um fato inusitado observado pelo monitoramento desse ano. "O Caçulão, que é um macho bem ousado. Ele andou e deitou em baixo das casas de uma das comunidades da Reserva Mamirauá, comeu cachorros, galinhas e um pato no período em que estávamos na região. E vimos uma interação bem interessante dele com outro macho. Marcamos o ponto em que o outro estava e, no dia seguinte, o Caçulão esteve no mesmo local", contou.

A equipe acredita que ao ouvir o esturro do outro animal, Caçulão esteve na área, obrigando que o outro macho se deslocasse. Entender essa interação entre os animais e também com as comunidades locais permite entender melhor a ecologia da espécie, assim como dar um retorno para as comunidades locais, podendo evitar a ocorrência de conflitos. 

Para realizar a captura, os pesquisadores instalam armadilhas nas trilhas de passagem dos animais. As armadilhas são laços que mantém as onças presas pela pata, até a aplicação do tranquilizante para a avaliação de saúde e coleta de dados. As armadilhas são verificadas diariamente e a equipe também avalia os vestígios da presença dos animais na área.

Após a captura, é realizada a biometria do animal, que consiste na medição total do corpo, pata e cabeça, identificação do sexo e pesagem. É avaliado o estado clínico dos animais, com medição de frequência respiratória e batimento cardíaco, coleta de parasitas e são retiradas amostras de sangue para análise em laboratório e realização de estudos de genética. Além disso, cada animal capturado é fotografado, suas pintas são marcas individuais, como uma impressão digital. As fotografias possibilitam a identificação dos animais, avaliando se os mesmos já foram avistados anteriormente pelos pesquisadores.

Depois de realizado esse procedimento, cada animal recebe um colar de telemetria VHF/GPS e passa a ser monitorado pelos pesquisadores.

"O transmissor emite um sinal de rádio, que permite que a gente localize o animal em campo. Coletamos dados de comportamento: se ele foge quando a equipe chega ou não, quais tipos de árvore os animais ficam durante a cheia, quais áreas eles usam, com qual frequência, tentando relacionar com a densidade de presas e como isso varia na cheia", afirma o pesquisador.

Um dos resultados já observados pela pesquisa é que durante o período da cheia entre três ou quatro meses na qual a floresta fica inundada, as onças-pintadas da região vivem sobre árvores, alimentando-se principalmente de primatas e preguiças. "É um comportamento que provavelmente só acontece nas várzeas e que não foi descrito para nenhum outro felino desse porte", afirma Emiliano.

"A teoria que a gente se baseia é a teoria da segregação sexual, a ideia de que os machos vão priorizar a reprodução e as fêmeas vão priorizar a proteção dos filhotes. Baseado nisso, a hipótese que a gente formulou é que os machos sairiam da várzea durante o período da cheia, por ser um período de escassez de alimento, se alimentariam em terra firme e voltariam no período de seca, de fartura de alimento. E as fêmeas ficariam o ano todo na várzea, sem sair, cuidando dos filhotes. Mas o que a gente observa com o monitoramento é que machos e fêmeas permanecem", ressalta o pesquisador.

Além da captura e do monitoramento por telemetria, também são instaladas armadilhas fotográficas para monitorar o tamanho da população de onças da Reserva. Por meio de sensor de movimento, as câmeras fazem o registro de imagens, contribuindo para a identificação dos animais que vivem na região.

Emiliano também ressalta que o estudo com armadilhas fotográficas revelou outro dado interessante: a alta densidade de onças na região. O número de indivíduos por área, ou seja, a densidade estimada, é de 15 indivíduos a cada 100km² na área de estudo, em torno do lago Mamirauá. O que o pesquisador caracteriza como uma das mais altas densidades de onça-pintada do mundo. No entanto, essa densidade de animais é dinâmica, com a possibilidade de entrada ou saída de alguns deles da área durante a seca.

Além dos três animais capturados esse ano, atualmente, outros dois machos também são monitorados pelos pesquisadores. 

Texto Amanda Lelis

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