Técnicas utilizadas pelos agricultores da Reserva Amanã contribuem para a nutrição do solo

Publicado em:  3 de outubro de 2016

Para uma planta crescer bonita e forte vai precisar de luz do sol, água e nutrientes. E adivinha, a não ser pela luz, os dois outros ela consegue retirar da terra. Sem um solo fértil, nenhuma batatinha vai crescer nem espalhar a rama pelo chão. Felipe Reis, que é pesquisador do Instituto Mamirauá, disse que "quem cuida das plantas é o solo. Ali, naquele emaranhado, estão as raízes das plantas com outros organismos, animais, fungos, bactérias e tudo isso vivo permite que a planta se desenvolva".

E sabe o que as plantas mais gostam? De cocô. É isso mesmo! De cocô de animais herbívoros, como vaca e galinha. Você sabia que o esterco, o outro nome dado ao cocô dos animais, oferece muitos nutrientes para a terra? "O esterco curtido já está numa forma que as ‘plantas gostam’, com alto teor de nitrogênio, com minerais que podem estar escassos no solo e, ali, estão concentrados, o que favorece esse crescimento das plantas", explicou o pesquisador.

Felipe trabalha na Amazônia há sete anos e disse que, nessa região, é muito comum o uso de Terra Preta de Índio e o Paú, que são altamente férteis para plantio de hortaliças e plantas nos quintais e canteiros próximos de casa. "As plantas que estão em casa, como não têm tantas folhas, galhos que caem para nutrir o solo, como acontece na floresta, a gente precisa vir com essa terra preparada anteriormente, por isso as pessoas usam terra preta ou esterco, porque nesse caso aquela planta está vivendo sozinha ali naquele canteiro", contou.

Deuzuita do Carmo, ou Dona Deusa, como é conhecida, ensina que para ter boa produção, precisa cuidar! "Tem gente que planta, planta e nunca nasceu uma fruta. A planta não é só colocar na terra e deixar lá não. Você tem que cuidar! Você tem que mexer a terra do topo, pra não ficar dura, as vezes mudar, tirar aquela terra e botar uma nova", contou.

Na Reserva Amanã, Felipe explica que as técnicas de manutenção do solo são consideradas sustentáveis pelos especialistas. "Você utiliza o solo: limpa, planta e depois tira a mandioca. Vai ter uma hora que a terra fica fraca. E o que os ribeirinhos fazem é deixar a terra descansar cinco, dez, vinte anos antes de plantar a roça de novo. E a própria floresta do entorno vai recolonizar aquela área, os passarinhos vão depositar algumas sementes, o vento vai levar outras, os animais vão começar a arrastar material, um lagarto, um morcego que atravessa aquela área, e a floresta começa a se reestabelecer. E nesse momento é que acontece a ciclagem, começam a cair as folhas, os galhos", falou.

Mas, para tudo isso acontecer demora muito tempo, alguns anos ou décadas. Então, essas famílias de agricultores precisam de outra área para plantar. Por isso, esse tipo de manejo é chamado de agricultura migratória. E é sustentável porque as áreas têm tempo para se recuperarem, sem que haja sobrecarrega ao solo.

O povo unido, jamais será vencido

Como você já aprendeu com Felipe, para o solo ficar fértil uma série de organismos vivos precisam trabalhar juntos. É como uma brincadeira de cabo-de-guerra, para ganhar, toda a equipe precisa fazer esforço. De acordo com o pesquisador do Instituto Mamirauá, é uma união de forças entre seres que enxergamos, como besouros e minhocas, e até alguns que não conseguimos ver, como fungos e bactérias. Além de outros seres vivos, que também estão nesse espaço entre o ar e a terra.

Ele contou como é esse trabalho em equipe entre a árvore e os fungos: "as plantas fornecem açúcares, que são produzidos nas folhas em processos fotossintéticos, pelas raízes para os fungos. E eles tem uma capacidade de crescimento muito rápido, o que para o solo é bom. O fungo capta esses nutrientes e passa para as árvores, enquanto elas oferecem o açúcar. É uma troca", comentou. Felipe também falou que pesquisadores chegaram à conclusão de que, na floresta amazônica, essa associação acontece em mais de 90% da floresta, por aí a gente vê a importância dos fungos no solo, sem eles, as plantas não conseguiriam viver.   

*Esse texto foi escrito originalmente para a edição especial do informativo O Macaqueiro - Kids, para a Semana Nacional da Ciência e Tecnologia 2016. Veja a revista completa!

Texto: Amanda Lelis

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