Simpósio é encerrado com apresentação de novo projeto de conservação na Amazônia

Publicado em:  7 de julho de 2017

Foi encerrado nesta sexta, 7 de julho, o 14º Simpósio sobre Conservação e Manejo Participativo na Amazônia (Simcon). Durante três dias, o evento reuniu 211 participantes como ouvintes para assistir às 80 exposições de pesquisas científicas, por meio de apresentações orais ou em pôsteres, além de cinco palestras e três minicursos. No último dia, foi apresentado o projeto Ciência Cidadã para a Amazônia, desenvolvido pela Wildlife Conservation Society (WCS-Brazil) em parceria do Instituto Mamirauá.

"Importantes instituições de ensino e pesquisa vêm sendo representadas por palestrantes e ouvintes ao longo desses 14 anos. Como consequência disso, temos visto o aumento do número de parcerias e redes formadas para a realização de pesquisa, projetos de conservação e manejo e para o desenvolvimento social da região", disse diretor Técnico-Científico do Instituto, João Valsecchi do Amaral.

Os trabalhos com melhor avaliação durante o Simpósio foram anunciados no encerramento do evento.As exposições, por pôster ou apresentação oral, foram avaliados por uma equipe de pesquisadores, pelos critérios: conteúdo e qualidade visual da apresentação, consistência da metodologia e resultados e desempenho do pesquisador durante a apresentação. As apresentações de arqueologia foram destaque, classificadas como 1áµ’ e 2áµ’ lugar da sessão de apresentações orais.

Em primeiro lugar ficou a apresentação "Em busca da história antiga do Caiambé: o projeto de arqueologia do Caiambé e a escavação do sítio São José", o primeiro autor foi o arqueólogo da Universidade Federal do Sergipe, Rafael de Almeida Lopes. Em segundo lugar, ficou a apresentação "Olhando além dos cacos e potes: contribuições das análises de carvões, líticos e ossos de pequenas dimensões para a interpretação de contextos arqueológicos do Sítio São João". Ambas exposições foram feitas pela arqueóloga e autora dos trabalhos Mariana Cassino, do laboratório de arqueologia do Instituto Mamirauá.

Na sessão pôster, o trabalho com melhor avaliação foi apresentado pela pesquisadora do Instituto, Iaci Penteado, com o título "Diagnóstico da gestão comunitária de duas tecnologias sociais na várzea amazônica". Em segundo lugar ficou Wlaisa Vasconcelos Sampaio, da Universidade Federal do Pará, com o estudo "Variação da qualidade espermática entre os graus de coagulação seminal, utilizando como modelo experimental macacos-de-cheiro". Esse pôster foi apresentado pelo orientador da pesquisa, Helder Lima Queiroz.

Antônio Monteiro é graduando da Universidade Federal do Amazonas (campus Coari), do curso de licenciatura dupla em Ciências, biologia e química e veio da sua cidade para participar do evento. "Estou achando fascinante, por que é muita coisa reunida em um só lugar. Aqui a gente consegue ver uma coisa e outra que acaba correlacionando com nossa vivência em nossa área. Como sou pesquisador, preciso ter uma linha de raciocínio mais ampla. E formado para ser professor, no intuito de levar para os alunos que existem essas ações com a caça, com a pesca e que as comunidades estão interagindo", disse o jovem.

O Simcon é realizado anualmente pelo Instituto Mamirauá, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. "Podemos dizer seguramente que o evento tem contribuído para o desenvolvimento de modelos de manejo participativo para as áreas de florestas tropicais, para a conservação da biodiversidade e seus processos evolutivos e ecológicos, sempre associado à melhoria da qualidade de vida das populações que estas áreas habitam, não somente através da divulgação do conhecimento gerado, mas também por oportunizar uma maior integração entre os atores interessados e engajados nessa luta", afirmou o diretor Técnico-Científico do Instituto.

Palestras

Durante os três dias de evento, especialistas em projetos cientí­ficos na Amazônia apresentaram palestras de temas diversificados. No primeiro dia de evento, o Dr. Michel André, da Universidade Politécnica da Catalunha (UPC), da Espanha, apresentou resultados do monitoramento acústico de botos na Reserva Mamirauá.

No segundo dia, a palestra em destaque foi do Dr. João Valsecchi. Durante sua apresentação, João discutiu aspectos e legislações sobre a caça no Brasil. "Nos últimos 30 anos, há um debate científico sobre a sustentabilidade da caça de subsistência na Amazônia onde alguns trabalhos demostraram o impacto dessa atividade e outros questionam os resultados dessas pesquisas e a aplicação dos mesmos como uma ‘regra’ para o ambiente amazônico", comentou. De acordo com o pesquisador, há diferentes visões sobre o tema, nas quais alguns defendem modelos restritivos ou até a proibição do uso da fauna, enquanto outros defendem a importância histórica e cultural da atividade.

Durante a palestra, ele apresentou as legislações atuais que tratam sobre o assunto e reforçou a importância de trazer esta discussão em voga. "No cenário atual, onde um projeto de lei pretende revogar a Lei de Proteção à Fauna (de 1967), a apresentação pretendeu divulgar em que momento estamos do ponto de vista legal e político, e tratar de aspectos técnicos cientí­ficos para subsidiar um debate profundo sobre a questão do uso da fauna em território brasileiro, mas principalmente por populações amazônicas", completou.

A pesquisadora do Instituto Mamirauá, Dr. Danielle Pedrociane, também foi palestrante e expôs sobre a Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) na sexta-feira. E a pesquisadora Dr. Fernanda Paim, também da instituição, palestrou sobre os avanços das pesquisas científicas em primatologia na Amazônia Central, desde os estudos realizados por Márcio Ayres, fundador do Instituto Mamirauá. De acordo com a pesquisadora, em 37 anos foram cerca de 20 pesquisadores que contribuíram e continuam colaborando para a geração de conhecimento científico e para a conservação de primatas da Amazônia.

Ciência cidadã

No último dia de evento também foi apresentado, durante uma palestra, o projeto Ciência Cidadã para a Amazônia. A iniciativa, que é desenvolvida desde o final de 2016, propõe o desenvolvimento de uma tecnologia para registro e compartilhamento de informação sobre a migração de algumas espécies de peixes pela bacia amazônica. O projeto é desenvolvido pela Wildlife Conservation Society (WCS-Brazil), com a parceria do Instituto Mamirauá e o financiamento da Fundação Moore.

"Existem vários projetos de monitoramento participativo de ciência cidadã em nível local e regional. Só que a gente pretende testar a eficiência de uma iniciativa no contexto de toda a bacia, para colocar em pauta a conectividade da bacia e uma visão do sistema aquático de forma integral, com um enfoque na migração de peixes", explicou Gina Leite, gestora do projeto na WCS-Brazil. O Instituto Mamirauá participa da construção do plano de trabalho do projeto, com o envolvimento de diversas equipes institucionais como o Programa de Manejo de Pesca, de Gestão Comunitária, e de Pesquisa e Monitoramento.

"O Instituto Mamiraua é um parceiro prioritário do projeto, participa desde a etapa inicial de desenvolvimento de alianças, faz parte da discussão sobre quais as variáveis vão ser monitoradas. E também vai acompanhar todo o desenvolvimento da tecnologia para ver a adaptação no contexto local e implantação em grupos locais, para testar o interesse de grupos de pescadores, escolas, turistas", completou Gina.

Outras programações

Antecederam a realização do evento os três minicursos realizados na sede do Instituto. Os temas foram "Biodiversidade e taxonomia de peixes na Amazônia", "Qualidade da água" e "Mapeamentos participativos aplicados à pesquisa e extensão". As atividades receberam 45 participantes ao todo.

No último dia também foram anunciados os vencedores do 8º concurso de Fotografia do Instituto Mamirauá. As fotografias vencedoras podem ser vistas na fanpage do Instituto no Facebook. 

Texto: Amanda Lelis

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