Instituto Mamirauá sedia o 20º Simpósio sobre Conservação e Manejo Participativo na Amazônia na cidade de Tefé, Amazonas

Publicado em: 13 de agosto de 2024

Entre os dias 6 e 9 de agosto de 2024, o Instituto Mamirauá organizou a vigésima edição do Simpósio sobre Conservação e Manejo Participativo na Amazônia (Simcon), evento científico que reúne pesquisadores, extensionistas, além de técnicos e representantes de comunidades tradicionais para discutir e divulgar pesquisas científicas e ações de extensão realizadas na região amazônica. O evento ocorreu na sede do Instituto Mamirauá, em Tefé, e contou com 328 participantes. 

No primeiro dia do evento, foram ministrados três minicursos que tiveram como público jovens, estudantes, professores e pesquisadores da região de Tefé. Nos dias seguintes, houve ciclos de palestras, mesas-redondas e apresentações de trabalhos com contribuições significativas na facilitação do diálogo entre cientistas, gestores ambientais, comunidades locais e outras partes interessadas.

Um dos temas de debate foram os 25 anos do Instituto Mamirauá, comemorado em abril deste ano. O histórico da instituição, seus avanços e principais desafios à frente foram discutidos na mesa-redonda intitulada “25 anos de atuação do Instituto Mamirauá”, a qual contou com a presença do diretor geral do Instituto Mamirauá, João Valsecchi, além do ex-diretor do Instituto Mamirauá, Helder Queiroz, do diretor do Instituto Nacional de Pesquisas na Amazônia (Inpa), Henrique Pereira e da gerente da Pousada Uakari, Deuzeny Martins. João Valsecchi e Helder Queiroz falaram sobre a ampla experiência do Instituto Mamirauá em atividades de pesquisa e extensão na área de conservação e manejo de recursos naturais na região do Médio Solimões, que agora se amplia para outras regiões na Amazônia, e nos desafios à frente. Helder Queiroz pontuou também que a estratégia científica da instituição foi construída com base nas necessidades das pessoas que vivem na Amazônia. Deuzeny Martins expôs sua história como profissional da área do turismo de base comunitária e a importância do Instituto Mamirauá na independência das comunidades em suas atividades econômicas na Reserva Mamirauá.

© Miguel Monteiro
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A parceria entre o Instituto Mamirauá e o Inpa foi relatada por Henrique Pereira, que destacou que muitos egressos do Inpa são hoje pesquisadores no Instituto Mamirauá. “São duas instituições irmãs que desenvolvem a ciência e a tecnologia para o desenvolvimento sustentável da Amazônia”, disse o diretor do Inpa. As duas instituições parceiras são unidades de pesquisa vinculadas ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). 

A crescente preocupação com a crise climática também foi debatida em uma mesa-redonda pelos pesquisadores do Instituto Mamirauá, Ayan Fleischmann e Rafael Rabelo, juntamente com Márjorie Lima do coletivo Unidos pelo Médio Solimões e Karla Braga do Instituto COJOVEM. Os participantes da mesa-redonda, intitulada “Mudanças Climáticas na Amazônia”, ressaltaram a importância de medidas preventivas para que a população humana não fique isolada e tenha garantia de acesso à água potável e demais suprimentos durante eventos extremos de seca. Karla Braga apontou que o protagonismo de crianças e jovens deve ser prioridade na busca de adaptações para as mudanças do clima. Os pesquisadores também apontaram a importância de programas de monitoramento ambiental, ecológico e socioeconômico de longo prazo para aumentar a nossa capacidade de prever a ocorrência de eventos climáticos extremos e seus impactos. O Instituto Mamirauá, após o evento de seca extrema que ocorreu em 2023, tem realizado o monitoramento ecológico (mamíferos aquáticos, peixes, aves, entre outros grupos), do clima e da hidrologia, no Lago Tefé e em outras áreas da região.

Dentre os palestrantes convidados do 20º Simcon, estava João Campos Silva, presidente do Instituto Juruá, o qual reforçou a importância da integração entre ciência e conhecimento tradicional, com protagonismo ativo das comunidades ribeirinhas para a garantia de sucesso de ações de manejo de recursos naturais na Amazônia. “O Simcon é uma excelente oportunidade de consolidar a importância dos povos locais na construção de um novo imaginário, para um futuro da Amazônia mais sustentável, com mais justiça social”, disse João Campos Silva.

O macaco-uacari foi o tema central da apresentação de Felipe Ennes, pesquisador associado do Grupo de Pesquisa em Biologia e Conservação de Primatas do Instituto Mamirauá. O pesquisador ministrou a palestra “O macaco-uacari: história das pesquisas sobre a espécie que criou a Reserva Mamirauá” e apresentou os resultados dos estudos mais recentes sobre o genoma e a relação com a distribuição geográfica deste grupo de primatas. Felipe Ennes também destacou a importância das pesquisas realizadas por José Márcio Ayres sobre o uacari-branco (Cacajao calvus), as quais levaram a criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, a primeira unidade de conservação no Brasil a incorporar a participação e as atividades de populações tradicionais residentes.

O Simcon contou também com a presença do pesquisador-colaborador do Núcleo de Estudos de População da Unicamp, Álvaro D’Antona, o qual ministrou a palestra intitulada “Populações em áreas protegidas - Sociodemografia no mosaico de unidades de conservação do Baixo Rio Negro”. O pesquisador ressaltou que as áreas protegidas na Amazônia Legal não são áreas de vazios demográficos. “É possível reconhecer que no entorno de áreas protegidas há uma concentração populacional humana, porém é uma ocupação pouco densa e mais dispersa do que no restante da região”, disse Álvaro D’Antona. O pesquisador apontou que as áreas do entorno de unidades de conservação na Amazônia Legal apresentam uma população humana quase cinco vezes maior que a população interna destas unidades de conservação. De acordo com Álvaro D’Antona, diversos autores da área de ciências naturais consideram este adensamento humano um fator de pressão para a integridade da biodiversidade de áreas protegidas. 

Além de suas contribuições para o avanço do conhecimento e das políticas relacionadas à conservação da Amazônia, o Simcon também desempenha um papel crucial na promoção da interiorização da ciência, sendo um dos poucos eventos deste porte que ocorre no interior da Amazônia. 

Texto: Miguel Monteiro e Bianca Darski Silva

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