Segunda onça capturada na Reserva Mamirauá também é preta e pode estar gestante

Publicado em: 24 de março de 2023

Pesquisadores vão monitorar mais de um felino durante o trabalho científico em 2023

Após o sucesso da primeira onça-pintada capturada neste ano, os pesquisadores do Instituto Mamirauá, que realizam pesquisas em conservação e ecologia de felinos na Amazônia Central, obtiveram êxito com mais uma onça, desta vez, uma fêmea. Capturado no dia 21 de março, no período da noite, após 27 dias de trabalho em campo na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (RDSM), o felino foi marcado com um colar de monitoramento GPS/VHF.

A equipe, que conta com uma veterinária, três biólogos, e dois assistentes de campo que são das comunidades da Reserva, já estavam felizes com a captura do macho apelidado de “Lula”, e agora comemoram a inclusão da onça “Marielle”, como foi chamada a nova fêmea, na pesquisa para dar continuidade à busca de mais resultados. “Quanto mais onças capturadas, melhores são as aproximações e modelos ecológicos para entendermos o movimento desses animais na várzea”, explica o biólogo e mestre em Ecologia, Marcos Brito.  “Além disso, um maior número de onças também é essencial para o monitoramento contínuo das doenças infecciosas que circulam na população desta área estudada, contribuindo para a criação de estratégias de conservação desses felinos. ”

Com a realização do exame clínico, a veterinária e doutora em Epidemiologia Experimental Aplicada às Zoonoses, Louise Maranhão, afirma que o animal estava em boas condições físicas corporais e idade estimada de nove anos, conforme aparentam os desgastes e colorações dentárias. “Inclusive algumas alterações odontológicas verificadas são em decorrência da sua idade mais avançada”, comenta. “Além disso, há indícios de que ela esteja gestante, pois no exame de palpação abdominal foi detectada estrutura firme e esférica no útero. Com o monitoramento será possível confirmar essa hipótese. ” Outras alterações observadas foi uma dermatobiose, que é a presença de ectoparasitas, larvas da “mosca do berne” em sua pele.  “De um modo geral o estado de saúde foi satisfatório e com o sangue coletado vamos dar continuidade à avaliação de saúde por meio de exames bioquímicos e testes sobre diversos patógenos”, conta Louise.

Para os pesquisadores, o mais marcante dessa nova captura é a possibilidade da gestação da onça que só poderá ser comprovada com o monitoramento que deverá começar no mês de maio, com o início da cheia na região. Outra surpresa foi o fato da onça cair no laço no primeiro dia após a reabertura dos mesmos, que tinham sido fechados por sete dias após a captura da primeira onça, que ocorreu no dia 13 de março.

Crédito da foto: Miguel Monteiro
Crédito da foto: Brian Dennis

Onça preta e trabalho à noite

Como a captura da onça fêmea ocorreu por volta da 22h14, a dinâmica de trabalho contou com uma dificuldade a mais que é a necessidade do uso de lanternas na floresta para a realização dos procedimentos de praxe que envolve a coleta de sangue, exame físico, a instalação do colar de monitoramento e demais cuidados técnicos.

Outro ponto curioso é que a onça “Marielle”, assim como as onças capturadas desde o ano passado, tem coloração preta, embora essa variação ocorra em parcela menor da população de onças-pintadas na Amazônia. “Ao contrário do que muitos pensam, a duas são da mesma espécie. A diferença é que as onças-pretas têm uma mutação genética que faz com que produzam uma quantidade elevada do pigmento melanina, responsável por deixá-las com a cor do pelo escura”, explica Miguel Monteiro, um dos biólogos da equipe. “Porém, as onças-pretas também têm pintas! Isso é geralmente observável ao se fotografar as onças com luz infravermelha, mas em alguns casos, como o dessa onça que capturamos agora, as pintas são visíveis a olho nu”, expõe o pesquisador. 

A equipe ficará em campo até o dia 30 de março de 2023 e estão confiantes na captura de mais indivíduos. Com a densidade altíssima de onças na Reserva Mamirauá, as estimativas mais recentes apontam que a cada 100 km², vivam aproximadamente dez desses felinos. “Com a subida do nível da água a cada dia, menos terra fica disponível e os animais procuram pela parte que ainda não foi alagada, antes de subirem para as copas das árvores quando a cheia de fato começar”, complementa Marcos Brito, referindo-se à época em que os rios enchem e as águas chegam a subir até 12 metros, deixando a floresta da Reserva totalmente alagada por mais de quatro meses.

O grupo de pesquisa é coordenado por Emiliano Esterci Ramalho, biólogo e doutor em Ecologia e Conservação da Vida Selvagem (Wildlife Ecology and Conservation) pela Universidade da Flórida (EUA). Atualmente, Emiliano também ocupa o cargo de diretor técnico-científico do Instituto Mamirauá.

Texto: Tatiane Ribeiro


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