Na Amazônia, nÃvel elevado d’ água interfere no desenvolvimento de ovos de jacarés
Publicado em: 27 de Janeiro de 2015
O ano de 2014 foi marcado por uma seca atÃpica na Amazônia. O nÃvel d’água não baixou como em anos anteriores e a chuva, que geralmente iniciava em novembro, começou em outubro. Esse início antecipado da chuva fez o nÃvel d’ água subir alagando ninhos de jacarés em regiões da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no Amazonas. A constatação foi feita por pesquisadores do Instituto Mamirauá que monitoram os ninhos de jacarés desde 2007.
Com isso, das oito áreas monitoradas na Reserva Mamirauá, em uma delas os pesquisadores encontraram corpos de água com até 40% dos ninhos alagados. A coloração preta dos ovos indica o apodrecimento dos mesmos. "Nós já registramos, em anos anteriores, a alagação de ninhos, sobretudo nos ambientes do Aranapu, que é um setor da Reserva Mamirauá [vide mapa 1]. Nessa área, os ninhos são colocados nos corpos d’água principais como canos e lagos, onde qualquer mudança da água é muito mais direta. Só que em 2014, o nÃvel d’água não desceu tanto [vide gráfico 1] e começou a encher um pouco antes do normal", explicou Robinson Botero-Arias, pesquisador do Instituto Mamirauá.
Mapa 1 – Áreas com ninhos monitorados pelo Instituto Mamirauá
Fonte: Geoprocessamento / Instituto Mamirauá
Segundo o pesquisador, a porcentagem de ninhos que estavam alagados foi maior do que em anos anteriores: "No ano passado, nós monitoramos 347 ninhos na Reserva Mamirauá, sendo que mais de 50 foram perdidos pela alagação. Se a gente faz uma somatória geral na área que abrange o estudo, na Reserva Mamirauá, 15% dos ninhos foram perdidos. Há lagos em que todos os ninhos foram inundados, e todos ovos perdidos".
Com o objetivo de estudar a ecologia de nidificação dos jacarés, o Instituto Mamirauá monitora os ninhos desses animais. As fêmeas constroem os ninhos em pequenos montes de vegetação, localizados próximos à água, e passam a vigiá-los. Quando os pesquisadores encontram os ninhos sem a presença das mães, eles abrem esses ninhos, procurando pelos ovos. São registrados os dados de número total de ovos no ninho, bem como dados de peso, comprimento e largura. Entre dezembro e janeiro é a época de nascimento dos filhotes e os pesquisadores retornam aos ninhos para acompanhar o sucesso da eclosão e registrar quantos foram predados e quantos eclodiram.
Quando a mãe não está vigiando o ninho, pesquisadores realizam a biometria dos ovos. Foto: Eunice Venturi |
Na opinião do pesquisador, possivelmente o percentual de ninhos perdidos em 2014 não representa uma consequência imediata para a conservação de jacarés. "Nós temos uma espécie muito abundante e as taxas de recrutamento [dos indivÃduos que se inserem na população e são sexualmente ativos] são relativamente baixas. Cada ninho tem, em média, cerca de 40 ovos, portanto acreditamos que apenas um indivÃduo vai chegar à vida adulta. Para um ano, talvez o efeito não seja tão negativo. Mas se isso tornar-se um padrão e começar a ocorrer ano após ano será necessário preocupar-se. Por enquanto, é um evento natural, já que temos uma população bastante saudável, bastante abundante", analisou Robinson.
Gráfico 1 – Monitoramento do nÃvel d’água na Reserva Mamirauá de 2012 a 2014. O nÃvel d água no pico da cheia vem ficando menor ano após ano.
Fonte: Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. Banco de dados fluviométrico da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.
Acessado em 27/01/2015 http://mamiraua.org.br/pt-br/pesquisa-e-monitoramento/monitoramento/fluviometrico/
Acessado em 27/01/2015 http://mamiraua.org.br/pt-br/pesquisa-e-monitoramento/monitoramento/fluviometrico/
Texto: Eunice Venturi
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