Manejo de peixes ornamentais é discutido na Reserva Amanã

Publicado em:  9 de setembro de 2014

O 3º Intercâmbio entre Manejadores de Peixes Ornamentais ocorreu de 3 a 6 de setembro na Reserva Amanã. O encontro permitiu compartilhar as experiências já desenvolvidas, expondo desafios e identificando gargalos para a atividade. Manejadores das Reservas Unini, Piagaçu-Purus e Amanã, além de pescadores que atuam no Lago Tefé, representante de  compradores e técnicos e pesquisadores do Instituto Mamirauá e do Instituto Piagaçú, participaram do encontro.

"A ideia deste intercâmbio surgiu para que os grupos que desenvolvem a atividade não trabalhem isolados, buscando estratégias coletivas para contornar problemas comuns", conta Jovane Marinho, técnico do Programa de Manejo de Pesca do Instituto Mamirauá.  Jovane acrescentou que "o primeiro intercâmbio aconteceu em 2011, na Reserva Extrativista do Rio Unini, com o objetivo de mostrar os benefí­cios do trabalho em grupo. Achamos necessário nos reunir também em 2012, para tratarmos de um assunto muito delicado: a seleção dos peixes. Este encontro foi realizado na Reserva Piagaçu-Purus. Os pescadores de lá foram os primeiros a dominarem estas técnicas de seleção e categorização dos peixes, tornando-se mais autônomos em relação aos compradores".  O acará-disco (Symphysodon aequifasciatus), por exemplo, é procurado no mercado exterior de aquarismo e pode ser do tipo comum, do tipo semi-royal e do tipo royal, conforme o padrão de seu colorido ou fantasia, a orientação de suas estrias ou pontilhados, além da cor de seus olhos, que precisam ser vermelhos. Na Reserva Amanã a classificação é feita de acordo com o padrão de distribuição de pintas de cor vermelho-amarronzadas pelo corpo dos peixes, subentendendo-se que o tipo comum apresenta nenhuma ou pouquíssimas pintinhas, o tipo semi-pintado (semi - royal) com distribuição parcelada de pintas pelo corpo e, o tipo todo pintado (royal) possui seu corpo totalmente preenchido pelas pintas. Essa classificação dos peixes implica em valores distintos para a venda.

Nesta terceira edição ocorreram apresentações de técnicos que assessoram o manejo e de pesquisadores que trabalham com o tema. Atividades práticas para a pesca de acará-disco também foram desenvolvidas. Uma galhada artificial, estrutura usada para atrair este peixe, foi montada.  E a pesca foi realizada. Com alguns animais capturados foi possível fazer uma avaliação sobre a classificação dos peixes, conforme os padrões discutidos no intercâmbio anterior.

Além de envolver quem já desenvolve a atividade, o intercâmbio também é uma oportunidade para novos projetos. Elcimar Damasceno, da comunidade Água Branca, na Reserva Mamirauá, participou do intercâmbio justamente com esse intuito. Sua comunidade ainda não realiza o manejo, mas Elcimar acredita "que o peixe ornamental pode ser uma fonte de renda para a gente e por isso eu quis participar, para levar este conhecimento e esta troca de experiência para o meu setor, onde existe um grande potencial para manejar estes peixes ornamentais". O pescador e comerciante Bernaldino Miranda, que atua no Lago Tefé, também contribuiu com o evento, compartilhando seu conhecimentos sobre a pesca de peixes ornamentais que desenvolve desde a década de 1980.

Assim como em toda atividade de manejo, o conhecimento tradicional e o científico articulam-se em busca de novas práticas. A pesquisa é desenvolvida buscando entender a biologia das espécies de peixes ornamentais, sua abundância e reprodução. Os pescadores, experientes com as técnicas de pesca, aprimoram-nas. Desta forma, a atividade de manejo de peixes ornamentais pode ser entendida, dentro e fora de unidades de conservação, como mais "uma oportunidade de renda complementar, aliada à renda do manejo de pirarucu e da agricultura familiar, por exemplo. E através do manejo agregamos valor ao produto", afirmou Felipe Rossoni, presidente do Instituto Piagaçu.

Um sistema de rastreabilidade para determinados produtos manejados, desenvolvido pelo Instituto Mamirauá, corrobora estas práticas sustentáveis. Felipe continua, mostrando a importância destas ferramentas de divulgação:  "Temos que dizer que a gente começou a pescar acará-disco, um peixe de alta qualidade, com o qual temos muitos cuidados. A gente não pesca de qualquer jeito, fazemos acompanhamento técnico e monitoramento da atividade, para que assim o preço seja  outro, porque a empresa também vai se valer disso para vender o peixe, em um mercado que valoriza cada vez mais o comércio justo. Isso é muito bonito, mas não é muito fácil e por isso que nós estamos aqui também. Nós temos que encontrar as melhores possibilidades para o produto manejado. Sobre estes desafios que nós temos que pensar.  Existem pontos bem simples para resolvermos, mas muitos pontos são bem difíceis. E pela conversa que já tivemos nos dois intercâmbios anteriores, sabemos que a gente só consegue resolver isso juntos". 

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