Livro apresenta panorama de conflitos entre felinos e seres humanos na América Latina

Publicado em: 26 de julho de 2017

Publicação será lançada nesta quarta-feira (27) em congresso internacional de Biologia. Instituto Mamirauá participa com pesquisa sobre conflitos na Amazônia brasileira

Medo. Admiração. Raiva. Fascínio. Em todo continente americano, poucos animais inspiram sentimentos tão contraditórios como a onça-pintada (Panthera onca). Ao mesmo tempo um dos símbolos da fauna brasileira e espécie ameaçada de extinção no próprio país, a onça é um dos focos do livro "Conflictos entre Felinos y Humanos en América Latina (em português, Conflitos entre Felinos e Humanos na América Latina)", lançado nesta quarta-feira (27) pelo Instituto Humboldt, da Colômbia.

A obra será apresentada no encerramento do Congresso Internacional de Biologia da Conservação, na cidade colombiana de Cartagena. "O livro apresenta a mais completa compilação já elaborada sobre os conflitos entre humanos e felinos na América Latina, abrangendo e integrando aspectos tais como o diagnóstico, avaliação e implementação de estratégias de manejo e as dimensões humanas para a resolução dos conflitos", afirma Wezddy Del Toro Orozco, integrante do Grupo de Pesquisa em Ecologia e Conservação de Felinos na Amazônia do Instituto Mamirauá.

Junto a uma equipe de especialistas brasileiros, Wezddy Del Toro e Emiliano Ramalho, colaboradores do Instituto Mamirauá, assinam como coautores um dos capítulos do livro, sobre as dimensões humanas dos conflitos entre seres humanos e onças no país. Ao contrário do que acontece com os tigres em regiões da Ásia, casos de ataques fatais de onças-pintadas a seres humanos são quase inexistentes. "Os conflitos estão associados em grande parte à predação de animais domésticos", explica Wezddy.

"O resultado do conflito muitas vezes é a morte do felino por retaliação e do lado dos seres humanos o resultado mais ‘tangível’ é a perda de animais domésticos, tanto de pequenos produtores como por exemplo em algumas regiões da Amazônia Brasileira, quando de grandes produtores no Pantanal", diz.

Conflitos na Amazônia

As relações conflituosas entre populações humanas e felinos é o tema de uma pesquisa desenvolvida há mais de quatro anos por Wezddy Del Toro na Amazônia. Entre 2013 e 2016, ela visitou nove unidades de conservação, na Amazônia Central e no Mosaico do Baixo Rio Negro, entrevistando moradores em mais de 250 comunidades ribeirinhas.

Foram relatados mais de 200 eventos de predação de animais domésticos. Em 83% dos casos o predador foi a onça-pintada, seguida pelo gato-maracajá (Leopardus sp.) e o puma, conhecido localmente como suçurana ou onça-vermelha (Puma concolor). Os períodos do ano em que os ataques foram mais frequentes são os tempos de enchente e vazante dos rios. O animal de criação com mais eventos de predação foi o porco e em segundo lugar o cachorro.

Contudo, a pesquisadora ressalta que as razões dos conflitos vão além de perdas econômicas. "Existem outros aspectos envolvidos como a percepção de risco e medo, o conflito social e outros aspectos que tem que ser levados em consideração nas tentativas para diminuir ou solucionar o conflito", pontua.

Convivência

Um dos objetivos da pesquisa do Instituto Mamirauá, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), é identificar características que possam ser referência para a criação de um modelo de previsão da distribuição espacial e temporal dos ataques de onça-pintada a animais domésticos na Amazônia Central.

Para Wezddy, para reduzir os conflitos entre seres humanos e felinos, é preciso "incentivar e promover um diálogo efetivo entre os moradores que convivem mais de perto com essas espécies de felinos e pesquisadores, organizações, gestores e instituições para fazer um planejamento participativo na procura de ações que promovam uma convivência harmoniosa entre felinos e humanos, buscando uma troca de conhecimentos e experiências sobre o conflito, assim como sobre o comportamento e ecologia dos felinos e de suas presas naturais".

As pesquisas sobre a ecologia e conservação de onças-pintadas no Instituto Mamirauá conta com recursos da Fundação Gordon and Betty Moore.

Texto: João Cunha

 

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