Instituto Mamirauá resgata o passado pré-colonial da cidade de Tefé, no Amazonas
Publicado em: 20 de fevereiro de 2018
Escavações recentes foram feitas nos arredores do campus da Universidade do Estado do Amazonas, no centro da cidade e já revelam ocupação milenar na região
Atenção, arqueólogos trabalhando! Protegidos do sol e da chuva com chapéus de palha e blusas de manga comprida, Marcio Amaral e Mariana Cassino cercam uma impressão circular na terra, que parece datar séculos de idade. Eles não estão em um ponto isolado, escondido pela mata, mas sim em plena cidade, em meio a agitação de motos e pedestres em uma calçada nos arredores do campus da Universidade Estadual do Amazonas (UEA) em Tefé, cidade no centro do estado do Amazonas.
A equipe, que integra o laboratório de arqueologia do Instituto Mamirauá, realizou entre janeiro e fevereiro um resgate de vestÃgios arqueológicos no lugar conhecido como SÃtio UEA. O salvamento é a mais recente atividade em campo da pesquisa "Arqueologia Urbana na cidade de Tefé". Foram coletados vestÃgios de ocupação humana ancestral, como camadas de "terra preta arqueológica" (também chamada de "terra preta de Ãndio"), pedaços de cerâmica, carvões e material lÃtico (rochas e minerais).
"O conjunto desse material está sendo organizado e analisado agora em laboratório. A partir daà podemos examinar coisas interessantes nessas estruturas, que funcionam mais ou menos como uma cápsula do tempo", compara o arqueólogo Marcio Amaral.
Tefé antiga
Polo da economia no médio curso do Rio Solimões, Tefé é um dos municípios mais tradicionais do Amazonas. O registro histórico mais remoto sobre a região data de 1538, em uma carta do navegador português Diogo Nunes, a serviço da Espanha.
A iniciativa do Instituto Mamirauá, "Arqueologia Urbana na cidade de Tefé", busca evidências bem mais longÃnquas, sinais de antigos povos que habitaram a região, antes e depois do contato com os europeus.
"A pesquisa (...) tem como metas a localização de antigos assentamentos humanos no perÃmetro urbano da cidade de Tefé e sua distribuição na paisagem. Objetivamos compreender aspectos relacionados às formas de apropriação e modificação da paisagem, bem como os processos envolvidos na escolha de determinada área para a fixação de contingentes populacionais, exploração e manejo da biota circundante", afirmam os pesquisadores em uma das apresentações iniciais do projeto.
Para isso, os pesquisadores do Instituto Mamirauá consultaram fontes documentais disponÃveis, entrevistaram antigos moradores e visitaram espaços públicos e propriedades privadas com indÃcios de cultura material secular. Os levantamentos já acontecem há mais de três anos e localizaram uma porção de sÃtios arqueológicos no perÃmetro urbano de Tefé.
"Os moradores mais antigos lembram de uma época em que encontravam vários desses vestÃgios arqueológicos pela cidade. Com a crescente urbanização de Tefé, as gerações mais jovens não fazem ideia do rico patrimônio cultural existente sob seus pés", conta o Eduardo Kazuo Tamanaha, arqueólogo do Instituto Mamirauá, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). O pesquisador ressalta que, além das escavações, as alunas Verônica Lima e LaÃsse Silva, do curso de História da UEA, desenvolveram suas pesquisas na valorização da história antiga da cidade de Tefé.
O SÃtio UEA foi apenas o mais recente dos sÃtios arqueológicos a ser escavado. As análises de laboratório, em fase inicial, já identificaram fragmentos cerâmicos que pertencem à fase Caiambé, um perÃodo de ocupação estimado entre 400 e 1.200 anos d.C.. Marcio Amaral pontua também que foram descobertos "alguns fragmentos de um tipo cerâmico bem mais antigo, que costumamos chamar de Pocó". A cultura Pocó teve uma ampla distribuição na bacia amazônica e data de séculos antes de Cristo.
Texto: João Cunha
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