Instituto Mamirauá inicia implementação de máquina de gelo em comunidade isolada da Amazônia

Publicado em: 31 de agosto de 2015

Uma tecnologia inovadora vai ajudar a aumentar a renda e melhorar a vida nas comunidades isoladas da Amazônia. Sem acesso à energia elétrica, os ribeirinhos têm grande dificuldade para conservar a produção e os alimentos para consumo. Para mudar essa situação, o Instituto Mamirauá está instalando máquinas de gelo, que funcionam com energia solar. Com os primeiros testes, a comunidade de Vila Nova do Amanã, no município de Maraã, já pôde sentir os benefí­cios com a produção de gelo na própria comunidade. 
 
As três máquinas, com capacidade total para produzir 90 quilos de gelo por dia, vão beneficiar cerca de 60 moradores. A tecnologia do projeto Gelo Solar, desenvolvida pelo Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE-USP), consiste em 60 paineis que captam a energia do sol. 
 
O equipamento possui um sistema fotovoltaico que dispensa o uso de baterias. "Esse é um dos diferenciais do projeto: transformar a radiação solar diretamente em gelo. Quando o sol nasce, a central já começa a gerar energia e automaticamente a máquina liga. Quando o sol se põe, a máquina desliga. Essa ideia é resultado de um pós doutorado na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, e agora a gente está conseguindo levar para o campo. Saiu da academia e agora chegou na comunidade", disse Aurélio Souza, pesquisador associado do IEE-USP.

Simultaneamente, foi instalado um sistema de captação de água de chuva, que será tratada e utilizada para a fabricação do gelo. "Como se trata de um projeto experimental, é necessário que se crie um ambiente onde se possa testar todo o potencial da máquina, principalmente em relação a sua produção diária de gelo em ambiente amazônico", explicou Ana Claudeise do Nascimento, socióloga e pesquisadora do Instituto Mamirauá. Além das três máquinas instaladas na comunidade, mais uma ficará na Pousada Uacari, para monitoramento da equipe. 
 
O projeto foi finalista do Desafio de Impacto Social Google | Brasil. Com o prêmio de R$ 500 mil, o Instituto Mamirauá colocou em prática a tecnologia do Gelo Solar. "Está todo mundo feliz com essa máquina de gelo, todo mundo trabalhando, alegre, feliz. Está todo mundo animado, sonhando com essa fábrica de gelo", disse Maria Lucimar Pereira, da Comunidade de Vila Nova do Amanã. 
 
A pesquisadora do Instituto Mamirauá, Dávila Corrêa, avalia o impacto social do projeto Gelo Solar. Segundo ela, os moradores das comunidades isoladas da Amazônia precisam viajar até 15 horas, de barco, para comercializar seus produtos nos centros urbanos. Por causa da distância, as famílias acabam pagando caro pelo gelo vendido nas embarcações que acessam a região. "As máquinas de gelo instaladas nas próprias comunidades vão diminuir as perdas da produção e aumentar a renda das famílias. Além disso, vamos ampliar a cultura de acesso à energia para as populações isoladas da Amazônia", disse a pesquisadora, acrescentando que o projeto tem apoio da Prefeitura Municipal de Maraã. 
 
Segundo ela, o Gelo Solar é uma expansão dos projetos de energia solar que o Instituto Mamirauá vem desenvolvendo na Amazônia. Dávila explicou que, no interior do estado do Amazonas, a matriz energética é 100% óleo diesel, que possui baixa eficiência e alto custo de operação, manutenção e distribuição. No caso das Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, que reúnem 286 comunidades, apenas 153 contam com pequenos geradores funcionando poucas horas por dia. As demais 133 vivem às escuras. 
 
Gestão de uso da máquina
Até o final de setembro, o Instituto Mamirauá vai promover uma oficina com os moradores para ensinar quanto ao uso da máquina. "É uma oficina de gestão em que nós vamos discutir com a comunidade a melhor forma de gestão, de forma que eles decidam a melhor forma de uso. Não é uma tecnologia que a gente vai instalar e deixar aí, nós vamos acompanhar e decidir com eles a melhor forma de uso já que a manutenção é pequena", disse Otacílio Brito, um dos técnicos que realizou a instalação da máquina. 
 
"Para nós a máquina é uma coisa nova. Então tudo é uma surpresa para nós, até mesmo para cuidar, como não cuidar. A gente vai precisar receber este conhecimento, então passar por essa oficina para ter conhecimento, vai ser muito bom. E aí a gente vai começar a planejar sobre o uso, de que forma cuidar para que ela possa durar quanto mais tempo, melhor", disse Eliakin Pereira Vale, presidente da comunidade Vila Nova do Amanã. 
 
Texto: Eunice Venturi
 

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