Instituto Mamirauá estuda espécies madeireiras em áreas degradadas da Amazônia

Publicado em: 24 de agosto de 2015

Para sobreviver em um ambiente que permanece alagado ao menos por três meses ao ano, as espécies vegetais de várzea possuem características distintas daquelas que ocorrem em outras regiões. Visando levantar informações ecológicas sobre espécies florestais arbóreas que ocorrem em áreas de várzea, o Instituto Mamirauá realiza uma pesquisa desde 2014. O estudo propõe conhecer melhor sobre os processos germinativos dessas espécies e a influência das perturbações antrópicas e de diferentes condições ambientais para o estabelecimento de plântulas na floresta de várzea.

Os primeiros resultados demonstraram para todas as espécies estudadas um aumento das porcentagens de germinação e uma redução do tempo médio de emergência nos tratamentos de inundação. Sobre o monitoramento em campo, os resultados já coletados são de mortalidade das mudas. Para todos os ambientes estudados, observou-se uma taxa de mortalidade entre baixa a moderada. Sendo a floresta madura, o ambiente que apresentou mais altas taxas de mortalidade, principalmente nas plântulas das espécies Matá-matá e Acapurana, o que a equipe da pesquisa associa à pouca incidência de luz solar e maior predação nesse ambiente, em comparação aos demais.

De acordo com Paulo Nascimento, da equipe do Programa de Ecologia Florestal do Instituto Mamirauá, "os solos de várzea são muito férteis em decorrência das cheias dos rios que trazem anualmente uma grande quantidade de sedimentos, o que contribui para que as florestas de várzea amazônica sejam as florestas alagáveis com maior riqueza de espécies do mundo". As florestas de várzea ocupam cerca de 56% da área de 1.124.000 hectares da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. Na Reserva Amanã, as florestas de várzea somam quase 20% da área total, equivalente a 470.000 hectares.

Paulo destaca que entre as principais atividades que impactam essas áreas estão a extração seletiva de madeira e a conversão de terras para agricultura e para pastagem. "A constante exploração desses recursos e as mudanças no uso da terra acabam afetando diretamente as características florísticas e estruturais da floresta. Muitas vezes, a exploração pode formar ambientes de baixa produtividade e de difícil regeneração", afirma.

O estudo deu prioridade a espécies madeireiras ou arbóreas, de importância econômica para as populações locais, e que são bastante utilizadas na região, como Acapurana, Copaíba, Virola, Matá-matá, e Muiratinga. Durante o ano de 2014, foram coletadas sementes de seis diDateTime));spécies de várzea nas reservas Amanã e Mamirauá. Essas sementes passaram por experimentos de germinação, que consistiram em deixá-las por um período de inundação de 30 dias, antes de semear.

As experiências foram feitas na Casa de Vegetação do Instituto Mamirauá, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Esse espaço, oferece diferentes condições de luz, imitando situações da floresta, com áreas que possuem incidência solar de 20%, 50% e 65%. A germinação dessas sementes foi monitorada diariamente durante 320 dias.

"O conhecimento sobre o comportamento germinativo dessas sementes é indispensável para criação de sistemas mais eficazes para produção de mudas. O estudo também vai fornecer importantes informações sobre a ecologia básica dessas espécies e sobre a regeneração de florestas de várzea", reforça o biólogo.

Depois do experimento de germinação, 1.200 mudas foram transplantadas para diferentes ambientes de várzea nas Reservas Mamirauá e Amanã. Cada plântula foi identificada com uma placa de alumínio para monitoramento pela equipe do Instituto. O monitoramento em campo será feito mensalmente durante o período de seca dos rios. Foram escolhidas áreas resultantes de perturbações antrópicas: uma pastagem e uma capoeira em estágio inicial. Capoeira é uma área em que a vegetação se encontra em processo de regeneração florestal, após anteriormente ter sofrido algum tipo de perturbação. Também foi escolhida uma mata não perturbada, que funcionou como tratamento controle.

Paulo Nascimento ressalta que a proposta é acompanhar o desenvolvimento das mudas por um ano, período em que as plantas passam por uma fase terrestre e uma aquática. Buscando entender até que ponto as diferentes condições ambientais podem influenciar no estabelecimento inicial das espécies em áreas que sofreram diferentes formas de perturbações. O estudo já possui dados de quatro meses de monitoramento, de outubro de 2014 a fevereiro de 2015.

São observadas em campo variáveis como incidência de luz, acúmulo de serapilheira no solo, temperatura e umidade relativa do ar, intensidade de inundação e deposição de sedimentos. E registrados dados como altura, diâmetro e sobrevivência das mudas. Os dados levantados vão subsidiar ações de manejo, para que a atividade aconteça de forma sustentável e também para oferecer propostas de recomposição florestal para áreas degradadas.

Essas ações fazem parte do projeto "Participação e Sustentabilidade: o Uso Adequado da Biodiversidade e a Redução das Emissões de Carbono nas Florestas da Amazônia Central" –BioREC – desenvolvido pelo Instituto Mamirauá com financiamento do Fundo Amazônia.

Texto: Amanda Lelis

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