Pesquisa inédita compara o genoma de 239 espécies de primatas. Objetivo é combater doenças que atingem os humanos

Publicado em: 20 de dezembro de 2023

Estudo publicado na revista científica britânica Nature teve a participação de cientistas brasileiros do Instituto Mamirauá, centro de excelência vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Brasil abriga a maior diversidade de primatas do planeta.

Investigar o sequenciamento completo de DNA (genoma) dos humanos e das espécies é um caminho promissor para a ciência melhor entender as doenças em busca de tratamentos e curas. Até o momento, a literatura científica tem fornecido dados comparativos de genomas de espécies distantes do ponto de vista filogenético (por exemplo, um primata e um roedor). Um novo e amplo estudo conduzido por um grande grupo de cientistas de diversos países e instituições foi publicado na Nature. Inédita, a abordagem deste estudo comparou o genoma de 239 espécies, todas da ordem dos primatas, incluindo o genoma humano. Este número de espécies de primatas representa cerca de metade de todas já descritas pela ciência.

Felipe Ennes Silva, pesquisador brasileiro, esclarece que, em nosso DNA, temos regiões que são importantes para formar proteínas, também conhecidas como regiões codificantes, e temos regiões chamadas de não-codificantes, ou seja, que não possuem instruções para produção de proteínas, mas que são importantes porque influenciam na expressão gênica – na funcionalidade dos genes. Para a abordagem desta pesquisa, Silva explica:

“Em especial, este estudo identificou regiões não-codificantes que são exclusivas na ordem Primatas. Essas regiões são importantes porque é nelas que temos variantes no DNA que podem estar ligadas ao risco de desenvolver certas doenças e impactar na saúde humana”.

Neste momento, o grupo de pesquisa inicia a segunda etapa da investigação. O objetivo é compreender com mais clareza as características do genoma de grupos específicos, como é o caso dos uakaris, gênero Cacajao, primata que ocorre na Amazônia e deu origem à criação do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.

Momento é de otimismo para novas descobertas: pesquisas científicas de sequenciamento de DNA são potencializadas pelo avanço da tecnologia e pelas cooperações internacionais de grande envergadura.

Recentes avanços na pesquisa com o genoma de Primatas têm sido possíveis por uma combinação de fatores, especialmente a diminuição nos custos para sequenciamento, o avanço rápido de diferentes tecnologias para o sequenciamento do DNA e a cooperação entre diferentes grupos de pesquisas.   

Parcerias e consórcios estão sendo formados em diferentes níveis, a exemplo do Earth Biogenome Project, que tem como objetivo sequenciar todos os organismos formados por células (i.e. eucariotos). Na Europa há o European Reference Genome Atlas (ERGA), que tem como objetivo produzir genomas de referência para todas as espécies do continente europeu. E, no Brasil, o Genotropics é uma recente iniciativa para consolidar um consórcio que integre pesquisadores já estabelecidos, novos pesquisadores, indústria e academia para fornecer treinamento para análise de dados genômicos, proporcionar uma troca entre os pesquisadores em genômica no Brasil e, principalmente, entender a base genética por trás da extraordinária biodiversidade do país.

Felipe dá o exemplo das pesquisas com primatas afirmando que “até recentemente tínhamos apenas alguns poucos genomas de primatas disponíveis e que foram sequenciados por diferentes grupos de pesquisa. Com a formação do consórcio “Sequenciamento do Genoma para a Conservação de Primatas” (do inglês: Primate Conservation Genome Sequencing), estamos tendo a possibilidade de sequenciar o genoma de centenas de espécies. Uma primeira etapa deste projeto já foi publicada numa edição especial da revista Science e incluiu mais de 86% dos gêneros e todas as famílias de Primatas no mais compreensivo catálogo da diversidade genética de primatas publicada até o momento. Isso se deve a um esforço colaborativo com pesquisadores de 24 países, incluindo Brasil, o país com maior diversidade de primatas no mundo. O paper recém publicado na Nature é ainda parte desta primeira etapa. Agora, iniciamos a segunda etapa do projeto, onde buscamos conhecer e caracterizar melhor o genoma de primatas que têm um importante papel como símbolos na conservação das florestas tropicais, como é o caso dos uakaris.

Texto: Virgílio Machado e Felipe Ennes

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