Estrutura flutuante para manejo de jacarés chega até comunidade ribeirinha na Amazônia

Publicado em: 14 de setembro de 2018

Tecnologia desenvolvida pelo Instituto Mamirauá foi levada para comunidade em reserva no Amazonas. Manejo e comercialização de carne de jacarés na região está prevista para o ano que vem

Uma equipe do Instituto Mamirauá acompanhou, no início de setembro, a chegada da Planta de Abate Remoto (Plantar) à comunidade de São Raimundo do Jarauá, na Reserva Mamirauá, localizada no estado do Amazonas. A estrutura é um abatedouro flutuante projetado por uma equipe multidisciplinar do instituto para viabilizar o manejo de jacarés na região, conforme as disposições sanitárias brasileiras. A tecnologia foi construída com financiamento da Fundação Gordon and Betty Moore.

Confira cenas da chegada do flutuante na comunidade ribeirinha:

O projeto surgiu em resposta ao interesse de populações tradicionais e do governo estadual na implementação de um sistema comunitário de uso comercial da carne de jacarés como uma estratégia de manejo e conservação dos animais. Pensando no ambiente dos rios da Amazônia, o Instituto Mamirauá projetou uma estrutura que atendesse, ao mesmo tempo, as condições logísticas e sanitárias para o abate. A estrutura é equipada com tecnologias sustentáveis que visam o menor impacto ambiental.

O Plantar saiu na quarta-feira (5) da cidade de Tefé (AM), onde foi construído, e chegou à comunidade na manhã da sexta-feira (7). A estrutura pertence ao Instituto Mamirauá e será utilizada pela Associação de Produtores do Setor Jarauá (APSJ), em acordo estabelecido por Termo de Cooperação Técnica entre ambas instituições.

Conheça o Plantar, tecnologia que vai tornar realidade o manejo sustentável

Com 112 m² de área, feita de metal, o Plantar é um abatedouro flutuante desenhado para realizar o abate de jacarés e pré-beneficiamento da sua carne. A estrutura conta com a utilização de energia solar e tecnologia para a captação de água da chuva. Se necessário, a base está aparelhada para recolher e tratar também as águas fluviais, garantindo os parâmetros sanitários. Os efluentes provenientes da atividade também serão devidamente tratados.

"A estrutura irá auxiliar no processo de manejo e ajudar bastante as comunidades. É uma estrutura experimental e a ideia é conseguir replicar essa estrutura com tecnologias que sejam mais acessíveis", explica Barthira Rezende, pesquisadora do Programa de Pesquisa em Conservação e Manejo de Jacarés. O Instituto Mamirauá é uma unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).

Também participaram da entrega do Plantar João Paulo Borges Pedro, responsável técnico pelo Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos Industriais, e Paula Araujo, médica veterinária responsável técnica pela tecnologia. 

O que é o manejo de jacarés?

Parece difícil de acreditar, mas a comercialização de forma sustentável da carne de jacarés pode ajudar a conservar as espécies na Amazônia. Além de gerar uma fonte de renda alternativa para as comunidades, a atividade tem o potencial de engajar as pessoas que vivem próximas aos jacarés amazônicos na causa da conservação das espécies.

O consumo de carne de jacarés é uma atividade tradicional e de subsistência em muitas regiões da Amazônia. Com um histórico recente de exploração das espécies de jacarés amazônicos com início na década de 1950 até o final da década de 1970. Nos anos de 1980 o jacaré-açu chegou a ser considerado ameaçado de extinção, mas pesquisas mais recentes apresentaram um panorama diferente.

"A viabilidade dessa atividade em áreas remotas só será possível com a utilização de um modelo de estrutura que supra as exigências legais e as necessidades locais para realização do manejo", relata Barthira.

O manejo será realizado no setor Jarauá, próximo à comunidade São Raimundo do Jarauá, pelos membros da Associação de Produtores do Setor Jarauá. O local foi escolhido por ter um histórico de abates experimentais, e o envolvimento da população ribeirinha nas atividades de monitoramento das áreas de reprodução, além de uma série de levantamentos populacionais de jacarés, incluindo o mais recente, realizado ano passado. Os dados recolhidos ao longo do tempo criam uma base sólida para que o manejo seja realizado.

"A comunidade é empolgada. A gente sempre teve uma resposta muito boa da parte deles, então isso é uma coisa que nos motiva, porque os beneficiários são os comunitários, então é um trabalho de equipe: o instituto como assistência técnica e os comunitários como beneficiários. ", conta a pesquisadora.

O PLANTAR recebeu, em junho, a licença de operação ambiental pelo Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM) e agora aguarda o laudo sanitário da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Amazonas (ADAF). Os pedidos de autorização para o manejo ainda serão realizados junto à Secretaria do Meio Ambiente do Estado do Amazonas, conforme a resolução nº 008 / 2011 do Conselho Estadual do Meio Ambiente do Estado do Amazonas (CEMAAM).

Texto: Bernardo Oliveira

 

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