Entrevista: Tesouros conservados da arqueologia amazônica

Publicado em: 12 de dezembro de 2018

O Laboratório de Arqueologia do Instituto Mamirauá reúne um acervo de centenas de peças do passado da Amazônia, entre fragmentos cerâmicos, urnas funerárias e restos orgânicos de plantas e frutos. Todo esse patrimônio material ajuda os cientistas na busca por entender a complexidade das populações que habitaram a região centenas e milhares de anos atrás, antes da colonização europeia.

Para manter todas essas relíquias em estado ideal de conservação, é fundamental a experiência de pessoas como Silvia Cunha Lima, pesquisadora do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP e associada do Instituto Mamirauá, arqueóloga e especialista em conservação e restauro de material cerâmico e lítico. Recentemente, Silvia esteve na sede da entidade, em Tefé, no Amazonas, para cuidar de mudanças na estrutura da coleção arqueológica. Conheça, a seguir, um pouco do que ela faz:

O Macaqueiro: A reserva técnica do Instituto Mamirauá, que guarda o acervo de Arqueologia, está passando por reestruturações. O que tem sido feito?

Como o Laboratório de Arqueologia mudou para um prédio novo, temos a preocupação de aparelhar e equipar a área de reserva técnica do material arqueológico. Elaboramos um plano de diagramação da sala e de mobiliário, porque a reserva técnica do Instituto Mamirauá também tem uma função expositiva, o público pode visitá-la, o que é importante. Então, pensamos em como conciliar esses objetivos. Há, também, a climatização, que quando queremos um ambiente com temperatura estável na Amazônia, é sempre complicado.

O Macaqueiro: A restauração de peças arqueológicas é outra linha importante do seu trabalho. Quais peças estão sob esse processo no momento?

Eu trabalhei com as urnas antropomorfas [com representações humanas] encontradas na comunidade Tauary [no estado do Amazonas]. É um material exuberante, pelo achado em si e pela qualidade da cerâmica, pela policromia, mas que tem uma fragilidade grande. Demos prosseguimento às atividades com caráter preventivo nas peças. Também estou fazendo um mapeamento digital das urnas, para que possamos monitorar a conservação delas ao longo do tempo.

O Macaqueiro: As urnas Tauary têm uma grande quantidade de detalhes e ornamentos. O que mais você pode falar sobre o restauro desse patrimônio?

É impressionante, porque são urnas muito pintadas, muito bonitas, encontradas in situ, no lugarzinho em que foram depositadas. Temos dois conjuntos de urnas que vieram do Tauary [depois da entrevista, pesquisadores do Instituto Mamirauá escavaram mais nove urnas na região] e, com base na datação das cerâmicas, a idade estimada delas é de 1460 a 1670 d.C.. A maior parte dessas urnas estava fragmentada, elas foram remontadas aqui no Instituto Mamirauá.

O Macaqueiro: Como se dá a parceria com o Instituto Mamirauá e o trabalho de conservação e restauro do acervo arqueológico em longo prazo?

Eu venho ao Instituto Mamirauá e à região desde 2007. Ao longo desses anos, toda vez que eu estou aqui, damos andamento às atividades de curadoria e restauro. Não são restauros estéticos, no sentido de reconstruir peças que faltam ou reintegração pictórica, os restauros sempre têm como finalidade a pesquisa. Temos uma série de materiais que já estão lavados e prontos para serem remontados, agora precisamos pensar em temporadas de restauro e espaço para guarda. É mais fácil guardar fragmentos em um engradado do que uma vasilha montada, por exemplo. E essas vasilhas, em geral, têm em torno de 150 a 300 fragmentos, o que leva um tempo.

(Entrevista originalmente publicada no informativo "O Macaqueiro", edição 81 - setembro a dezembro 2018. Confira o conteúdo completo aqui)

Texto: João Cunha

 

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