Curso de manejo de caranguejo reforça a importância de áreas protegidas na Amazônia

Publicado em: 26 de outubro de 2017

Realizado no município de São João da Ponta, o curso ofereceu intercâmbio entre pescadores e pescadoras artesanais e técnicos de extensão rural do estado do Pará

"Não fosse a criação da Resex, nós não teríamos mais caranguejo aqui na região". A fala é de Raimunda Santarosa, moradora do município paraense de São João da Ponta, onde fica a Reserva Extrativista (Resex) Marinha de mesmo nome. "Toda espécie de peixe tem aqui no nosso rio. E por isso a gente luta por essa Resex", disse Manoel Ferreira das Neves, presidente da Associação da Resex São João da Ponta.

A importância às áreas protegidas da Amazônia foi ressaltada durante o "1º Curso de Boas Práticas sobre o Manejo de Caranguejo-uçá: o método de embalagem para o transporte sustentável", promovido pela Secretaria Estadual de Desenvolvimento Agropecuário e de Pesca (SEDAP-PA) e pelo Instituto Mamirauá, com financiamento da Gordon and Betty Moore Foundation.

O curso, realizado entre os dias 22 e 27 de outubro, no município de São João da Ponta, foi ministrado em quase a sua totalidade por pescadores e pescadoras artesanais. Eles levaram sua experiência com o manejo do caranguejo para técnicos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater). "A gente está fazendo um curso novo, onde o pescador é a grande atração", disse o sociólogo Patrick Passos, da SEDAP-PA.

Segundo Valdemar Vergara Filho, analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), foi um processo de construção participativa para viabilizar o curso: "É uma parceria com várias instituições para que esses comunitários mostrem seus conhecimentos. É estratégico estabelecer parcerias, mas mais estratégico a natureza das parcerias. Os parceiros são bem-vindos para somar ao processo de gestão participativa".

O curso foi dividido em temas. No primeiro dia, as lideranças abordaram temáticas dentro da realidade dos ecossistemas em que atuam. Segundo Patrick, o ambiente de manguezal vem sofrendo impactos externos: "No caso do litoral paraense, existe hoje a apropriação de terrenos em manguezal para construção de grandes condomínios e a produção de organismos aquáticos em grande escala que não dialoga com as populações tradicionais".

Na terça-feira, os participantes foram ao manguezal. Ouviram dos pescadores como a pesca é realizada, a dificuldade de acesso ao "mangal", como chamam o manguezal, e aprenderam a usar o laço, uma armadilha feita de bambu, para capturar o caranguejo instaladas sobre as tocas. No terceiro dia, aprenderam a fazer o paneiro e o cofo, embalagens tradicionais do caranguejo. Na quinta, voltaram ao mangue, quando também tiveram acesso ao sistema de seleção de caranguejo e armazenamento em basquetas, um novo método de transporte sustentável que vem sendo testado na costa do Pará e já reduziu a mortalidade de caranguejos de 55% para menos de 3%.

O curso em São João da Ponta termina nesta sexta-feira e a expectativa é realizar uma nova edição em 2018.

Texto: Eunice Venturi

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