Com foco nas realidades amazônicas, tecnologias sociais são tema de feira em Tefé

Publicado em: 26 de outubro de 2017

Programação é gratuita e acontece até hoje (26/10) na sede do Instituto Mamirauá

Uma tábua de madeira de 40 cm por 20 cm. Um terçado, uma barra de ferro para fixar o equipamento e está pronto. Tecnologias sociais têm muito a ver com praticidade e resolver problemas do cotidiano, e um grande exemplo disso é o descascador de castanha do Brasil, que foi descrito no início dessa notícia. O descascador é um dos destaques da I Feira de Tecnologias Sociais – Qualidade de Vida na Amazônia, que começou nessa quarta-feira (25), na sede do Instituto Mamirauá, em Tefé, Amazonas.

Estudante do 5º ano do ensino fundamental, Taís dos Santos Ribeiro passou por lá e conferiu a tecnologia. "Nunca ninguém tinha inventado algo tão legal assim, sem ter que usar o terçado normal e correr o risco de se cortar, né, e descascar a castanha de um jeito bem diferente", disse. Depois de observar com atenção como o descascador funciona, foi a vez da própria jovem testar a inovação.

"Eu adorei, queria ter em casa, porque para descascar a castanha, eu uso a faca ou bato contra a porta mesmo", contou. Desenvolvido por um técnico do Instituto Mamirauá, o descascador de castanha do Brasil (Bertholletia excelsa) já é usado por extrativistas da região de Tefé, como José Soares, que aumentou a produção e, em 2017, descascou aproximadamente 20.000 castanhas com a ajuda do aparelho.

"O descascador é mais eficiente que o método tradicional de descascar castanha com o terçado e é mais seguro também, diminuindo o risco de acidentes no processo", apontou a técnica do Programa de Qualidade de Vida do Instituto Mamirauá, Maria das Dores Marinho.

Banheiro Ecológico Ribeirinho

A falta de saneamento nas áreas rurais do Norte do Brasil também são foco de pesquisadores e técnicos que trabalham com tecnologias sociais na região. É o caso do projeto Banheiro Ecológico Ribeirinho (BER), desenvolvido na Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), e também em exposição na Feira de Tecnologias Sociais.

Uma adaptação do tradicional banheiro ribeirinho, uma casinha de madeira no fundo da residência, o BER é uma alternativa limpa para o dejeto de fezes e urina, um problema para quem vive em regiões distantes dos centros urbanos na Amazônia.

Implantado em duas casas na Ilha das Onças, no estado do Pará, os banheiros substituem o uso de água por serragem, cinzas e folhas secas, materiais que ajudam no processo de compostagem e diminuem os odores do banheiro. "Também estamos planejando o uso do caroço de açaí moído, que é um recurso muito abundante na região", afirmou a bióloga Vania Neu, uma das pesquisadoras responsáveis pela tecnologia.

Sobre a feira

Realizada pelo Instituto Mamirauá, a Feira de Tecnologias Sociais – Qualidade de Vida na Amazônia nasce com o objetivo de divulgar o tema das tecnologias sociais e como elas podem ser pensadas e aplicadas em diferentes realidades da Amazônia, em uma troca de experiências entre pessoas e instituições da área.

A feira tem patrocínio da Fundação Banco do Brasil e do Governo Federal e acontece paralelamente à Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), promovida há 14 anos pelo Instituto Mamirauá, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), na cidade de Tefé.

A coordenadora de pesquisa do Instituto Mamirauá, Maria Cecí­lia Gomes, é uma das responsáveis pelos eventos e destacou a diversidade de tecnologias expostas. "As exposições que estão aqui na feira são tanto voltadas para a qualidade de vida, para o domicílio das pessoas, quanto para o fortalecimento da produção", disse. "Tem tecnologias sociais simples, como a máquina de descascar castanhas até coisas mais complexas como um programa de governo, que é considerado uma tecnologia social porque está sendo construída junto com a população, que é o Programa Nacional de Saneamento Rural".

A pesquisadora considera que essa variedade "é interessante para desmistificar um pouco o que é a tecnologia social, que não são só aparelhos, máquinas. Tecnologias sociais são processos também, metodologias, ideias postas em prática pensando no social".

A Feira de Tecnologias Sociais – Qualidade de Vida na Amazônia vai até hoje (26), na sede do Instituto Mamirauá, com entrada gratuita.

Texto: João Cunha

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