Agricultores na Amazônia unem saberes tradicionais e ecologia com o manejo de agroecossistemas

Publicado em: 14 de junho de 2017

Baseado em princípios da agroecologia, o projeto BioREC assessora e promove capacitação para agricultores familiares de comunidades ribeirinhas que desenvolvem atividades agrícolas de forma sustentável integradas a floresta

A agricultura familiar é práticada em sítios, roças, capoeiras e quintais espalhados por toda a Amazônia. Cultivadas há gerações, as práticas agrícolas são uma das bases fortes da economia doméstica. O projeto Mamirauá: Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade em Unidades de Conservação, o BioREC, trabalha ao lado de agricultores familiares para desenvolver essas atividades por vias ainda mais sustentáveis.

Um dos caminhos praticados é o manejo de agroecossistemas. Os campos agrícolas também são ecossistemas que se relacionam com as formas de vida e os sistemas naturais ao redor, além disso no agroecossistema tem-se a presença de uma família ou agricultor que realiza o manejo de pelo menos uma espécie agrícola, de forma geral são sempre manejadas mais espécies agrícolas nas áreas, o que contribui para manutenção e geração da agrobiodiversidade.  

"Na agroecologia estimula-se o manejo das áreas de plantio sem uso de insumos químicos e uma agricultura livre de agrotóxicos, isso ajuda no fortalecimento e valorização das práticas tradicionais de manejo já adotadas pelas famílias de agricultores", destaca Fernanda Viana, coordenadora do Programa de Manejo de Agroecossistemas. Esse é um dos princípios da agroecologia, abordagem teórica e prática adotada pelo Programa de Manejo de Agroecossistemas (PMA) do Instituto Mamirauá no projeto BioREC.

Agricultura, pecuária e ecologia em sintonia

Com o manejo de agroecossistemas, os técnicos do Instituto Mamirauá estimulam a melhoria da produtividade em áreas de plantio utilizadas pelos agricultores, reduzindo assim a necessidade de abertura de novas áreas de floresta e a emissão de gases poluentes para a atmosfera. Para isso, a equipe propõe manejos que combinem a o uso sustentável dos recursos naturais, respeitando-se os períodos de descanso do solo e regeneração da floresta entre os ciclos de utilização para novos plantios de roçados e outras áreas produtivas.

"Esse período de descanso da terra, chamado de pousio, é uma das fases mais importantes para que o solo se recupere e a floresta possa se regenerar ao ponto de ser novamente, com menores impactos. Os agricultores familiares, que acompanhamos já realizam o pousio em suas áreas, isso também é um diferencial destes, no manejo que realizam, eles promovem a conservação", destaca Fernanda Viana.

Estes manejos são realizados baseando-se em práticas que estimulem o enriquecimento e manejo dos sistemas agroflorestais (SAFs) para melhoria da sua produtividade e geração de agrobiodiversidade. Nos sistemas pecuários são trabalhadas informações para prática agroecológica do manejo de gado e de pequenos animais de criação com os criadores de gado. Estas informações auxiliam para melhorar a qualidade de vida destes animais, para melhorar a conservação do solo e reduzir o impacto do pisoteio nas pastagens, além disso, preconiza o manejo dos recursos naturais que dispensa o uso de produtos químicos no solo.

Tudo é feito e experimentado em parceria e contando com a experiência dos agricultores familiares da Reserva de Desenvolvimento Sutentável Amanã e Mamirauá, localizadas no estado do Amazonas. As propostas se adequam às realidades, culturas e necessidades das populações ribeirinhas, através das trocas de experiências das lições do manejo tradicional e de novos conhecimentos técnicos para as práticas agrícolas.

Além destas práticas, pesquisas que permitem o monitoramento da abertura de áreas em campo e por imagens de satélite, bem como estudos que apoiem experimentação com técnicas de manejo pecuário agroecológico vem sendo desenvolvidas e tem subsidiado as atividades de extensão e outras pesquisas, além de contribuir para geração de informações para auxiliar na conservação destas áreas.

Capacitações e beneficiamento de polpa de frutas, a Casa de Polpas

Pelo BioREC, o Instituto Mamirauá - unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Comunicações e Inovações (MCTIC) - realiza capacitações e assessorias de multiplicadores agroflorestais e pecuaristas agroecológicos, e a replicação e multiplicação de SAFs e sistemas pecuários agroecológicos.

Outra frente de ação do manejo de agroecossistemas é o estímulo à produção sustentável de polpas de frutas vindas de Sistemas Agroflorestais dos agricultores familiares.  No mês de maio, na comunidade Boa Esperança, localizada na Reserva Amanã, o projeto BioREC apoiou a inauguração da Casa de Polpas de Frutas, um projeto da também da comunidade, onde as frutas são processadas e beneficiadas em polpas, para consumo local dos moradores e comercialização, no local foram instalados freezers para apoiar o resfriamento e armazenamento destas polpas de frutas, movida a base de energia solar. A gestão da Casa de Polpas está sendo realizada pela comunidade, que vai ter mais uma a opção de renda a partir dos produtos cultivados nos agroecossistemas.

O BioREC

Para reduzir e transformar práticas que geram conversão florestal, degradação ambiental e emissões de gases de efeito estufa, o Instituto Mamirauá desenvolve, desde 2013, o BioREC. O projeto é financiado pelo Fundo Amazônia, gerido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e tem duração de cinco anos. Saiba mais sobre o manejo de agroecossistemas e outras linhas de atuação do projeto na Amazônia.

Texto: João Cunha      

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