Projeto de pesquisa avalia o acesso à energia em comunidades rurais do Amazonas e Pará

Publicado em: 30 de setembro de 2024

O Instituto Mamirauá desenvolveu um projeto de pesquisa em parceria com a Universidade Federal do Pará e a Universidade de Bristol, da Inglaterra, que avaliou o acesso à energia em comunidades rurais da Amazônia. O projeto teve duração de quatro anos, de 2020 a 2024.

Durante o projeto de pesquisa, entrevistas foram feitas para avaliar diferentes realidades da Amazônia, tendo como ponto focal seis comunidades localizadas nos estados do Pará e Amazonas. A pesquisa foi feita em comunidades com acesso ao Programa Luz para Todos, comunidades com ligação irregular de energia, comunidades com atendimento apenas da prefeitura, comunidades que investiram em energia solar, entre outras. O estudo levantou dados sobre características sociodemográficas, despesas com energia elétrica e hábitos relacionados ao uso da energia, como horários de trabalho, descanso e estudo. Também foram levantadas informações sobre as alternativas energéticas usadas nestas áreas remotas e o nível de satisfação, insatisfação e expectativas relacionadas à melhoria do acesso à energia.

Cada realidade mostrou diferentes formas de organização coletiva e familiar para adquirir ou manter o acesso à energia elétrica. Em geral, onde há uma combinação de fontes de energia, é possível manter o acesso mais constante. É o caso de uma comunidade na Reserva Amanã onde a energia é produzida por gerador a diesel. O combustível é custeado em parte pela prefeitura local, mas também é dividido entre os moradores. Devido às falhas no sistema vigente, um quarto das famílias da comunidade adquiriram energia solar que, apesar de também apresentar falhas, foi o arranjo de acesso à energia que mais gerou satisfação para as famílias.

Mas há muitas vulnerabilidades - onde teoricamente deveria haver energia elétrica por 24h ao dia, ou seja, nos locais onde há extensão de rede elétrica por meio do Programa Luz para Todos, há muitas falhas no fornecimento. Quando há queda de árvores nos postes, por exemplo, a energia falta por até 15 dias. Com isso, famílias perdem a produção de açaí e alimentos congelados. Além disso, não adquirem maquinário pesado para o trabalho, como equipamentos para serraria, por não haver uma rede trifásica disponível. Outras vulnerabilidades incluem: quando não há energia, não há água, pois as bombas dos poços dependem da eletricidade. As aulas ficam prejudicadas, pois não há ventilação nas salas de aula nem armazenamento de merenda congelada para todo o mês. Assim vemos que, apesar dos benefícios da energia para a qualidade de vida, ainda são necessárias melhorias para que haja um impacto econômico significativo. 

Ao final da pesquisa, em abril de 2024, foram realizadas reuniões de devolução de dados com as comunidades nos municípios de Uarini e Maraã, no Amazonas. Na ocasião, foram realizadas também atividades de mobilização na comunidade São João do Ipecaçú, contendo uma oficina educativa sobre produção audiovisual e uma oficina sobre Teatro do Oprimido, com foco no público jovem.

Assista ao vídeo produzido durante a oficina neste link.

Texto: Maria Cecília Gomes e Miguel Monteiro

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